Uma artista autodidata, uma mulher de espírito aventureiro. Aos 80 anos, a maioria deles dedicados à arte, Ilca Behnke mantém o mesmo entusiasmo que a motivou a ingressar nesse universo na juventude e que está expresso nas pinturas e nos gestos dessa catarinense nascida em Corupá.

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Enquanto se movimenta inquieta pela sala da casa transformada em ateliê, ela mostra as telas de paisagens coloridas que cobrem as paredes e fala sobre os lugares retratados ali. É a natureza que a motiva.

– Onde mais poderíamos buscar inspiração? – questiona.

– Está tudo aí fora para nós, não precisamos copiar nada – acrescenta, apontando para a janela de vidro com vista para o jardim.

O talento, assim como o amor pela pintura, surgiu naturalmente na adolescência, quando esboçou os primeiros traços inspirados em personagens de histórias em quadrinhos da Marvel, como o Capitão América.

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Nessa época, Ilca morava em São Paulo com a família e trabalhava como babá. Foi em um passeio pelo Pacaembu com uma das crianças das quais tomava conta que ela conheceu um senhor, seu Romeo, que trabalhava como zelador do estádio e, nas horas vagas, dedicava-se à pintura.

Ele a incentivou a aprimorar o talento e criar telas com tinta a óleo e, um tempo depois, levou os quadros da jovem artista para expor em um cinema de Barretos, no interior de São Paulo.

– Uma semana depois, houve um incêndio no cinema e queimou tudo. Essa foi minha primeira exposição – lamenta.

O episódio fatídico não desanimou Ilca, que continuou dedicando-se à pintura e costumava expor as obras em praças no centro da capital paulista. Mas só quando mudou-se para Joinville, há 56 anos, é que teve a oportunidade de conciliar o trabalho com os dons artísticos.

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Ilca foi contratada para trabalhar na antiga fábrica Hansen e pintava à mão as figuras que enfeitavam as sedas do leques confeccionados pela empresa. Além da pintura, ela também começou a dedicar-se ao artesanato, fundou a Associação Joinvilense de Artesãos (Ajart) e ajudava na organização de feiras na rua do Príncipe que promoviam a entidade e, principalmente, as criações dos artistas locais.

– Naquela época, até cheguei a comprar um carro só vendendo artesanato – relembra.

Nessas feiras, ela começou a fazer seus quadros ao vivo, sob os olhos atentos das pessoas que passeavam por lá. Para divulgar sua arte, Ilca foi mais além. Passou a viajar por quase todo o Brasil participando de feiras e eventos voltados para pinturas e artesanatos, já esteve em Minas Gerais, Pará e Rio Grande Norte, passando dias em um ônibus.

E não importa aonde vai, sempre leva na bagagem os trajes típicos da cultura alemã e as pinturas que retratam paisagens naturais do sul do País. Esse espírito desbravador ela diz ter herdado do pai.

– Moramos em várias cidades, ele não conseguia ficar muito tempo parado num lugar só – conta.

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Mas a maior das aventuras a artista e artesã realizou neste ano. Em março, Ilca acompanhou o neto de 22 anos em um mochilão de um mês pela Europa, hospedou-se em hostels e albergues e dividiu quartos com jovens de vários países.

– Foi muito bom, eu aguentei – diverte-se.

Sempre muito atenciosa e gentil, ela conta que deixou um lenço pintado por ela em cada um dos lugares onde ficou como sinal de agradecimento. Eles passearam por países como Holanda, Suíça, Áustria, Polônia e Alemanha, onde fez questão de procurar a casa onde o pai dela nasceu.

-Estava tudo abandonado, mas encontramos o lugar e tiramos algumas fotos.

De volta ao Brasil, Ilca já produziu uma série de novos artesanatos e telas para mais uma exposição. Ela não descansa, e nem quer descansar, confessa que continuará fazendo sua arte até quando puder.

– Não consigo ficar parada. À noite não posso ir com a tela e os pinceis para cama, então fico fazendo sapatos de bebê – comenta e se levanta da poltrona mais uma vez para mostrar as peças de crochê.

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