Conhecido como Mato Grosso, Liberto Sant’Ana de Oliveira, 73 anos, morreu nas primeiras horas do mês que tanto gostava. A vinculação com fevereiro era musical. Mato Grosso, que faleceu por volta das 4h30min desta quarta-feira, estava internado no Hospital Universitário da UFSC, em Florianópolis, por causa de leucemia. Ele compôs dezenas de sambas que embalaram muitos desfiles na Capital. Teve passagem por diferentes escolas e uma obra a ser conhecida pelos sambistas mais jovens. Em 2010, foi homenageado com o Troféu Página do Samba, segunda edição, idealizado pelo também compositor Paulinho Carioca.

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Nascido em Mato Grosso, passou a ser chamado assim quando foi morar no Rio de Janeiro. O convívio com músicos da Baixada Fluminense rendeu-lhe mais do que o apelido: o gosto e o estreitamento com a música. Mais tarde mudou-se para Florianópolis, onde viveu por quase 40 anos e fez muitos amigos. São justamente esses, como Nazareno Amorim, um “cumpadi”, que conseguem discorrer um pouco sobre a obra deixada por Mato Grosso.

Com o saudoso mestre Dica, por exemplo, em 1984, viu a Unidos da Coloninha tornar-se campeã com “Feitos e efeitos da cana de açúcar”. Com Nazareno, dividiu um momento que entrou para a história da televisão. O episódio rodou o mundo em 1986 e ocorreu na extinta RCE TV. Durante um debate esportivo ao vivo, no qual estavam Roberto Alves, Miguel Livramento e Helio Costa, um PM armado invadiu o estúdio e rendeu a todos. Pai de seis filhos, ele reclamava dos salários atrasados. Mato Grosso e Nazareno não perderam tempo: saíram dali e fizeram um samba, hoje cantado pela Velha Guarda da Protegidos da Princesa. Os versos dizem mais ou menos assim: “Todo mundo correu…”.

Também assinou “Brasil, sua natureza, sua etnia” (1985), pelo Império do Samba, com Haroldo Cahen. No ano seguinte, escreveu sobre “Sonhar não é proibido, proibido é acordar”, com Nazareno, n’Os Filhos do Continente. Lufa-Lufa (Acadêmicos do Samba) foi brindado em 1986, no enredo “As Máscaras”, junto com Rivelino. Em 1987, embalou o enredo “Corações de pecados e amores”, com Nazareno, também n’Os Filhos do Continente. De volta ao Lufa-Lufa, foi a vez de, mais uma vez com Nazareno, homenagear a deputada Antonieta de Barros: “De letra em letra se constroem vidas: obrigado, Professora Antonieta de Barros!”. Também em 1990, de novo com o amigo Nazareno, foi autor de ¿Pois é, Seu Zé: e agora?¿, n’Os Filhos do Continente. Outra música que assina é “Lá no Morro”, cantada por Maria Helena.

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Foi também presidente da Ala de Compositores da Protegidos da Princesa. Anos atrás, fez cirurgia no coração e afastou-se de eventos, embora vez que outra aparecesse com a camiseta da Protegidos na casa de algum amigo. Como não bebia (frequentou por décadas o AA), tinha uma maneira peculiar de comemorar a criação de um novo samba: com um copo de refrigerante na mão, fazia o batismo pingando algumas gotas sobre o papel. Ainda que o parceiro brindasse com gotas de cerveja.

Além de tantos sambas, Mato Grosso deixa a esposa, dona Penha, quatro filhas, três netos e um bisneto nascido no último domingo. O corpo está sendo velado no cemitério de Barreiros e será sepultado no cemitério de Forquilhinhas, em São José, cidade onde morava com a família. Um cavaquinho pelas mãos do também compositor Bira Pernilongo vai prestar as últimas homenagens a Mato Grosso.