Com uma natureza viçosa e fértil, uma variedade de cores, infinitos pássaros e insetos que na Europa só conseguimos ver raramente em coleções de ciências empalhados ou em álcool. Também há papagaios de diversas cores que sobrevoam aos gritos entre tucanos e borboletas.
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Este foi o relato do barão George Von Langsdorff ao pisar em São José, em dezembro de 1803. A descrição é apenas uma de tantas semelhantes escritas pelos primeiros imigrantes que chegaram na cidade. Aos 263 anos, comemorados nesta terça-feira, ela clama por delicado presente: a preservação de sua história.
Ver São José como o barão Goerge viu será mais possível. As casas se transformaram em modernos condomínios, casarios vieram abaixo e a tranquilidade de muitos bairros foi apagada como a Terra Firme, palavras que compuseram o nome completo da cidade.
Colada e não raramente confundida com a Capital do Estado, o crescimento populacional de São José foi inevitável e apesar da transformação, a cidade é uma das poucas que consegue estar na mesma posição em dois rankings quase opostos. Ela é a quarta mais populosa de Santa Catarina e também a quarta mais antiga.
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Como poucas cidades de metrópole, mantém uma pedacinho quase intacto. No Centro Histórico de São José estão catalogadas 13 edificações tombadas por sua relevância histórica e cultural. Em uma delas mora um pedaço da memória do município. Gilberto Gerlach, 69 anos, é neto de um dos primeiros moradores.
Gotteiet Gerlach veio da Alemanha e comprou uma casa na cidade em 1903. A edificação está no mesmo lugar até hoje e abriga a Biblioteca Municipal. Foi nela que ele formou a família composta por sete filhos.
Teve comércio e cedeu parte do espaço de dois andares para abrir uma escola. Gilberto não deixou a história ser apagada e vive na mesma vizinhança onde nasceu e cresceu, em uma moradia também tombada pelo seu valor cultural. Ela tem mais de cem anos e está lado da casa onde Dom Pedro II e Teresa Cristina passaram a noite em visita ao município.
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Quando Gerlach nasceu, em 19 de setembro de 1943, não passava carros pela rua onde mora, era uma criança que brincava com os amigos no meio da estrada e que tinham a baía limpa para se refrescar. O menino cresceu alimentando um sentimento de preservação da memória.
Dedicou toda a vida à cultura e a história. Manteve durante anos, o Cine York e se debruçou na história de Santa Catarina, trabalho que lhe rendeu dois livros, o São José da Terra Firme (com a reprodução de 250 fotos de época o qual reuniu na companhia do amigo de infância Osni Machado) e o Desterro (sobre Florianópolis). Em novembro de 2011, foi eleito para integrar a Academia Catarinense de Letras.
Gerlach quer transformar a casa em museu
Neste ano, Gerlach terá que deixar tudo para trás e tentar viver longe do lugar onde nasceu. O crescimento da cidade, a chegada dos bares e restaurantes e os congestionamentos intermináveis na região fez com que ele, influenciado pela mulher Carmem Lucia com quem é casado há 35 anos, decidisse comprar um apartamento no centro de Florianópolis. A mudança está prevista para o fim do ano e ele sonha em transformar a casa em museu.
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– Tenho um acervo único de cinema, são muitos cartazes e objetos históricos que não poderei levar comigo. A casa tem tudo para ser um museu e continuar preservando a memória de São José, só preciso de apoio do governo municipal – relata.
O antes
– 182 casais açorianos iniciaram o povoamento em 1750
– em SC havia apenas três cidades no Estado: São Francisco do Sul, Florianópolis e Laguna
– em 1971 primeira capela foi construída e imigrantes desenvolveram a lavoura, comércio e o cultivo do algodão e linho
– em 1797 a cidade tinha 2.079 habitantes e 412 escravos
– em 1848 um homem vai a forca ao lado da igreja
– em 1854 o teatro abre as portas
– em 1912 chega o cinema
– em 1913 os lampiões são substituídos pela luz elétrica
Fonte: livro São José da Terra Firme de Gilberto Gerlach e Osni Machado
Hoje
– tem 215 mil moradores
– 1.200 indústrias
– 6.300 estabelecimentos comerciais
– 4.800 empresas prestadoras de serviços
– tem 18 bens tombados
Prefeitura quer conquistar PAC Cidades Históricas
De acordo com o superintendente-adjunto da Fundação Municipal de Cultura e Turismo, Caê Martins, hoje a prioridade do órgão é conquistar recursos do programa federal PAC Cidades Históricas para revitalizar o Centro Histórico de São José. Segundo ele, a documentação está sendo preparada e o credenciamento no programa deve ser feito este ano. A ideia é começar a revitalização pelo Beco da Carioca ( lugar onde lavadeiras batiam a roupa).
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Quem tem um imóvel de valor histórico ( segundo a lei nº 4429/2006)
– não pode alterar suas características essenciais;
– deve notificar a prefeitura quando pretender vender ou alugar;
– precisa informar quando não tiver recursos para restaurar;
– não pode alterar a decoração das construções;
– tem direito de até 70% de desconto no IPTU;
– pode morar no imóvel, vender e alugar.
Os bens tombados de São José
1 – Casarão do Clube 1º de Junho (rua Getúlio Vargas s/n, Praia Comprida )
2- Sobrado da Municipalidade (rua Homero de Miranda Gomes)
3 – Igreja Nosso Senhor do Bonfim (Centro Histórico)
4- Beco da Carioca (Centro Histórico)
5 -Casa da Câmara e Cadeira ( praça Hercílio Luz)
6 – Casarão da Família Moreira (Centro Histórico)
7- Casarão da Família Gerlach (Centro Histórico)
8 – Igreja de Nossa Senhora de Fátima e Santa Filomena (Praia Comprida)
9 – Conjunto de seis casarios tombados construídos entre século 19 e 20 (Centro Histórico)
10 -Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros (Ponta de Baixo)
11 – Igreja Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos (Centro Histórico)
12 – Casa de Comércio da Família Petry (Praia Comprida)
13 – Pier do Rio Maruim (Ponta de Baixo)
14 – Casarão da Família Kowalski (Sertão do Maruim)
15 – Theatro Municipal Adolpho Mello (Centro Histórico)
16 – Usina do Sertão do Maruim
17 – Solar dos Ferreira de Mello (Centro Histórico)