Márcia Pontes é graduada em Segurança no Trânsito e especialista em Gestão do Trânsito
Márcia Pontes é graduada em Segurança no Trânsito e especialista em Gestão do Trânsito (Foto: Pancho / Agência RBS)

O que falta para o trânsito melhorar?

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Começando pela responsabilidade do poder público. Falta abraçar o trânsito como gestão, política pública voltada para o trânsito. Não é uma coisa melindrosa, cheia de egos. Falta todo mundo entender que se não tiver política pública e se a população não for orientada para o trânsito, a coisa não vai funcionar. No âmbito de cada um, cabe ao cidadão, até quem não é habilitado, comportar-se bem no trânsito, fazer as coisas com muito cuidado, prestar muita atenção, não ser distraído, nem com celular, nem com pensamento, nem com qualquer outra coisa. Ao condutor, cabe parar de ser ¿zoiudinho¿. Parar de ser fominha, sabe? Não adianta reclamar da corrupção do país, que está nesse mar de lama por conta dessa corrupção imunda, se no dia a dia o condutor faz as suas pequenas corrupções. E ele quer salvo-conduto para isso. A população tem que ser orientada. Tem gente cometendo infração na cidade porque não sabe que aquilo que está fazendo é uma infração.

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E não sabem por que? As autoescolas não funcionam como deveriam?

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Começa pelo processo de formação de condutores. Autoescola trabalha com adestramento. É 20 horas/aula para você aprender a dirigir o carro. O instrutor vê o erro do aluno, passa por cima, e vai empurrando até o fim do processo, quando tem muitas reprovações e quando consegue sair da autoescola não consegue tirar o carro da garagem sem bater ou arranhar. As aulas práticas não priorizam a realidade do aluno. São muito em cima de decoreba. Precisa fazer trânsito com amor e com paixão para poder ensinar as pessoas.

Um condutor que quer levar vantagem é uma pessoa que quer levar vantagem na vida?

Com certeza. O que as pessoas são dentro do carro elas serão na vida. E vice-versa. Eu observo muito as pessoas dirigindo os seus carrinhos de compras no supermercado. No próprio estacionamento tem que respeitar as leis de trânsito como na via pública. E você vê que as pessoas cortam a frente umas das outras, colocam o carrinho onde querem. Na vida real elas vão estacionar em fila dupla, elas vão apressar o motorista da frente, elas vão buzinar para quem não tem experiência, para carro de autoescola. Não tem bem aquela história do Pateta, que se transforma dentro do carro. As pessoas só mostram no trânsito o lado oculto, as compensações ao seu sentimento de inferioridade. E é um gatilho. Acaba o trânsito se transformando num gatilho para despressurizar toda a raiva e toda a agressividade.

Se fosse para escolher um problema para resolver entre os motoristas da cidade, qual seria?

Eu escolheria levar informação. Leve orientação para as pessoas numa linguagem que elas entendam. Falta esclarecer sobre a fé pública do agente que o legitima preencher o auto de infração, mas que isso não significa que o cara não pode se defender ou que a defesa dele não vai ser aceita. Muitas pessoas estão sendo penalizadas por falta de orientação. Sair do ¿juridiquês¿, tirar o conhecimento da seara, das mãos preciosas dos especialistas e trazer para a população numa linguagem que ela entenda. Faz isso! A população não comete mais infração.

No fim das contas, vale no trânsito o que vale na vida?

Tolerância e respeito. As pessoas pedem tanto por paz no trânsito, por tolerância, que sejam mais educadas, mais pacientes, menos estressadas, mas na vida elas não são assim. É uma grande hipocrisia. O motorista vai lá, coloca o adesivo do Maio Amarelo e não para na faixa de pedestre, fura o sinal vermelho, xinga os outros, arruma briga de trânsito, toma uma fechada e em vez de ficar calmo, tranquilo, vai fazer o quê? Persegue o cara até a garagem dele, dá sinal de luz. É como na rede social. As pessoas conseguem fazer inimigo com gente que você nem conhece. Reclama do comportamento do outro, mas não tem um comportamento pacífico no trânsito também. Isso resolveria muita coisa.

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