Nos cem anos de vida completados ontem, Otilho André Cheardozino conservava um sonho a ser realizado. Queria saber como era ver o mundo do alto. Contemplar a vista, sentir o cheiro daquele lugar. Quando alguém da família viajava de avião, era sempre interrogado para contar a experiência em detalhes.
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No passado, ele já trabalhou ajudando a abrir estradas, viajou de trem, metrô, barco. Faltava o avião. O neto Elienai Cheardozino Veloso, na busca por um presente que simbolizasse todo o carinho de pai que ele guarda por aquele que na verdade é avô, teve o estalo. A melhor homenagem era realizar o sonho de Otilho.
No dia 28 de novembro do ano passado, avô e neto embarcaram no aeroporto de Navegantes rumo a São Paulo. Almoçaram em um shopping próximo na capital paulista e, no início da tarde do mesmo dia, voltaram para Santa Catarina.
Otilho teve tratamento Vip da companhia aérea: o comandante contou sua história para os demais passageiros do voo, ele conheceu a cabine no hangar da companhia, sentou na cadeira do piloto e ganhou um cartão da tripulação.
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O clima ajudou e Otilho e Elienai viajaram em um dia de céu de brigadeiro. Sorte do agora centenário senhor, que foi de olhos bem abertos na janela, atento a tudo que passava pequenininho lá embaixo.
– Lá de cima eu vi as casas todas pequenininhas, que nem uma casa de passarinho, as ruas pareciam um risco de lápis – relembra.
Otilho tem seis filhos, 19 netos, 23 bisnetos e seis trinetos. Passou a maior parte da vida em Lages, mas hoje mora com uma filha em Blumenau. Ao longo da vida, conciliou o trabalho com a vida religiosa atuando como pastor e professor de teologia. Também mantém hábitos que até hoje o ajudam a manter a saúde e a lucidez, como a leitura e o desenho.
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Ontem Otilho completou 100 anos, data que será comemorada em grande estilo pela família no fim de semana. O convite tem a foto de seu Otilho de boina na cabeça e olhar atento na janela do avião. Mas só mesmo assim para desvendar a idade de Otilho. Normalmente é o entusiasmo de garoto que chama a atenção. Como na resposta que deu ao descer do avião em São Paulo e Elienai perguntou o que tinha achado do passeio tão sonhado.
– Quero ir de novo. É só marcar a próxima.
*Colaborou Jean Laurindo