Chapéu preto, colete de vaqueiro e um pônei marrom com pintas amareladas. Esta poderia ser a descrição de um cenário de rodeio, mas se trata das ferramentas de trabalho de Antônio Pinto Cabral, 48 anos. Com uma câmera fotográfica nas mãos, ele caminha pelos bairros joinvilenses procurando clientes: crianças de todas as idades. Pela rédea, ele puxa o pônei chamado Muleque, seu companheiro de ofício há seis anos.

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Cabral carrega no sobrenome o título de navegador, mas seus caminhos foram trilhados por terra. Até os 15 anos, morou com a família em um sítio da cidade de Dois Vizinhos, no Paraná. Ainda jovem, conheceu o ofício de fotógrafo com um amigo e começou a vender as primeiras fotos. Com a família, Antônio passou por várias cidades da região Sul, fotografando crianças do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Até que chegou em Joinville, a sua cidade preferida, onde mora há 25 anos.

Antônio é autônomo e trabalha oito horas, diariamente. De manhã, põe a sela no pônei e o coloca dentro da Kombi. Depois, escolhe o bairro de destino. Foi assim que ele criou os quatro filhos.

– O ?Tonho? é trabalhador e bom pai. Ele sempre dá valor à família – diz a mulher, Lurdes Cabral, 50 anos.

Nos últimos dois anos, Antônio conta com o apoio do sobrinho, Valter Cabral, que ajuda a alimentar e cuidar do Muleque. Juntos, eles moram no Jardim Iririú. Quando estão em casa, o pônei fica amarrado em uma árvore de frente para a rua. Pinhona, Pampa, Keni, Pingo, Jacaré… A lista de pôneis que Antônio criou e adestrou chega a 20. Foram tantos que a memória falha ao tentar lembrar de todos. Quando o animal envelhece, é necessário trocar. Às vezes, um filhote substitui o outro, assim como Muleque, que sucedeu a mãe, Keni.

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Já é tradição na família: Antônio nomeia o novo companheiro para o antigo ofício. Em 35 anos de trabalho, ocorreram tentativas de roubo, mas Antônio sempre recuperou os pôneis.

– Ele é meu ganha-pão, minha máquina de trabalho. Sem ele, não tenho vida – afirma.

Para o trabalho, Cabral comprou três câmeras. A cada foto, ampliada no tamanho 15 x 21, ele fatura R$ 20 e leva na lembrança o sorriso ou a careta de uma criança. Algumas delas têm medo, outras só aproveitam o momento. Nas horas vagas, Antônio continua lidando com os animais. Ele diz gostar de ordenhar vacas, tratar de cavalos e porcos. Ele já trabalhou na metalurgia e na construção civil, mas sempre voltava à antiga função. É na sua profissão que ele alia dois gostos: o convívio com crianças e a criação de animais.

– Quando pegamos uma profissão de que gostamos, é difícil largar – explica ele.

Comparando com os anos anteriores, diminuiu a clientela. No início, as crianças faziam fila para serem fotografadas montadas no pônei. Hoje, isso mudou. Mesmo assim, ele não pensa em parar.

– Até quando puder, vou continuar.