Uma ilha histórica perdida em meio ao desenvolvimento do Centro de Joinville, a estrutura que durante quase um século manteve como identidade a Metalúrgica Wetzel deixa, a cada dia, seu passado industrial para trás para se tornar um centro universitário.
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Ao mesmo tempo, tem resguardadas suas características e garante que as novas gerações conheçam sua arquitetura. Com a Pontifícia Universidade Católica assumindo o conjunto de prédios e casas – o contrato de aluguel foi fechado em 2010 e os primeiros cursos chegaram ao local em 2012 -, as obras de restauro fazem com que aquele espaço de 22 mil metros quadrados entre as ruas Visconde de Taunay e Senador Felipe Schmidt ganhem vida novamente.
Para a população em geral, o grande benefício é ter restaurada a estrutura que fica no Centro de Joinville, no coração da Via Gastronômica. Será livre também a passagem pelas alamedas do Centro Universitário que ligam as duas ruas, gerando permeabilidade urbana.
Aos alunos que utilizam aquelas edificações, fica a oportunidade de estudar em salas que mantêm detalhes da história: o pé-direito nas salas de arquitetura deixam em evidência a construção dos telhados do início do século passado; os laboratórios de engenharia estão nos mesmos espaços que antes abrigavam áreas de produção da metalurgia.
A quarta etapa da restauração e da reforma está sendo finalizada neste mês e, entre as obras, está o renascimento da Casa Schmidt, na rua Senador Felipe Schmidt. Até pouco tempo, ela ficava escondida por um muro com cerca de arame no alto e, agora, sua proteção se limita a grades que permitem visualizar o imóvel histórico da calçada.
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Em breve, ele estará aberto à população: a antiga casa de um dos fundadores da Wetzel se tornará o Núcleo de Práticas Jurídicas, na qual os alunos do último ano do curso de Direito prestam serviços gratuitos à comunidade, sob a supervisão de orientadores.
Além da casa, também foram restaurados dois blocos do conjunto fabril para se tornarem salas de aula. Até agora, a instituição utilizava um galpão com entrada para a Visconde de Taunay como bloco A e outros dois prédios tombados, revitalizados em 2011. Além disso, a instituição construiu dois blocos novos para as salas de aula.
O investimento é de R$ 26 milhões, com recursos da Associação Paranaense de Cultura (PUC/PR) – um projeto chegou a ser aprovado pela Lei Rouanet, do Ministério da Cultura, para captação via incentivo fiscal, mas nenhuma empresa utilizou o mecanismo para colaborar na restauração do patrimônio histórico da cidade – todo o conjunto arquitetônico, incluindo duas casas da família Wetzel, são tombadas pela Fundação Cultural de Joinville.
A reforma total do complexo deve ser concluída em janeiro de 2016, quando a antiga capela será restaurada e alguns espaços acadêmicos serão ampliados e construídos.
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História que cresceu com Joinville

Quando foi instalada neste endereço, nos anos 1930, a Wetzel praticamente começou um distrito industrial, já que a seu lado ficava a Fundição Tupy (que nos anos de 1970 mudou-se para o Boa Vista) e, a poucos metros, a Meister. Antes dessa data, no entanto, já havia produções com o sobrenome Wetzel naquele terreno: Friedrich Louis, que chegara a Joinville em 1856, ampliava o orçamento familiar produzindo velas e sabão à noite, dando início à Cia. Wetzel Industrial.
O negócio foi ampliado, levando três de seus filhos a dirigirem a companhia em uma casa em enxaimel construída na atual Visconde de Taunay. Hoje, ela é considerada o único exemplar dessa técnica de arquitetura no Centro de Joinville.
– A casa também está nos planos de restauro, mas, como ainda não há intenção de uso para ela, não deve passar por obras agora. Teríamos que tirar peça por peça dela para o restauro. Por enquanto, a responsabilidade do Grupo Marista é sua manutenção – afirma a arquiteta Marjorie Suider, responsável pela revitalização.
Logo atrás da casa em enxaimel, outro marco da paisagem da área central da cidade foi construído, em 1920: a chaminé de 56 metros, planejada para garantir que a fumaça saída da fábrica passasse bem longe dos joinvilenses e seus telhados. Era ali que, nas primeiras décadas do século 20, Ema Wetzel secava bananas em um forninho com grelha construído na base. Aproveitando o endereço, os descendentes fundaram a Schmidt Wetzel & Cia. e deram início às atividades de metalurgia, fabricando torneiras e registro em latão.
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– A preservação deste lugar é importante porque ele faz parte da história da industrialização da cidade. Ele pode ser considerada a primeira indústria de Joinville – avalia a arquiteta.
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