Homenageado deste sábado do festival serrano com o Troféu Cidade de Gramado, Wagner Moura conversou com a imprensa no final da tarde, antes da cerimônia no Palácio dos Festivais. Curiosamente, o ator baiano de 37 anos que já participou de 25 filmes, entre curtas e longas-metragens, nunca tinha vindo ao evento gaúcho.

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– Estou arrasado porque vou embora amanhã (domingo). Gramado é linda demais, e eu adoro passar frio. Gramado é um dos mais importantes festivais latino-americanos. É um absurdo eu nunca ter vindo aqui antes, fazendo cinema há 15 anos no Brasil – lamentou Moura durante a coletiva.

O astro chegou à serra gaúcha diretamente de Los Angeles, onde acompanhou nesta semana a pré-estreia de “Elysium” – ficção científica dirigida pelo cineasta sul-africano Neill Blomkamp (de “Distrito 9”), no qual atua com nomes como Matt Damon, Jodie Foster e a colega brasileira Alice Braga.

– O convite surgiu porque Neill é fã do “Tropa de Elite”. Tanto “Distrito 9” quanto “Tropa de Elite” são filmes bastante populares e bastante políticos, como também o é “Elysium”. Tentam ter um coeficiente de realidade, tentam se aproximar de um efeito real. Eu prontamente aceitei, o personagem é muito bom, dúbio. Nunca tinha feito filme em outra língua. Falo inglês, mas uma coisa é falar, outra é atuar em uma língua estrangeira. Gostei muito do “Elysium” – disse o artista a respeito do filme que entra em cartaz no Brasil no dia 20 de setembro.

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Apesar do sucesso nessa estreia hollywoodiana – estima-se que “Elysium” vá arrecadar cerca de US$ 30 milhões neste primeiro final de semana nos cinemas americanos, ao mesmo tempo em que o jornal The New York Times qualificou a atuação de Moura como “fantástica” -, o ator disse não estar pensando em uma carreira internacional:

– É provável que rolem outros convites para trabalhar lá. Não gosto nem da palavra carreira. É a minha vida: a pessoa que sou e o artista que sou são meio misturados. Vou procurar personagens que me encantem, tanto aqui quanto lá. Eu sou um ator brasileiro e quero continuar fazendo filmes brasileiros. Não penso em morar em Los Angeles. Embora filmar fora seja de certa forma um recomeço, continuo tendo lá os mesmos critérios que tenho aqui para filmar.

Por falar em produções internacionais, Moura comentou a respeito de dois projetos com esse perfil: “Fellini” e “Trash”. No primeiro, atualmente interrompido, o ator brasileiro deve encarnar o cineasta italiano Federico Fellini; no segundo, dirigido pelo inglês Stephen Daldry, contracenou com um elenco multinacional em uma história rodada no Rio de Janeiro, sobre três garotos que acham em uma carteira instruções para encontrar uma bolada em dinheiro.

– Fellini foi escrito por Henry Bromell, um dos roteiristas da série “Homeland”. Eu vinha trabalhando nisso há quase oito meses, mas o Henry morreu de enfarte em março. O texto era dele e ele iria dirigir. Agora que fui a Los Angeles, tive uma reunião com o produtor e decidimos procurar um novo diretor. Não é uma biografia do Fellini, é um episódio da vida dele. Quando ele foi a Los Angeles para o Oscar com o filme “A Estrada da Vida” (em 1957), ele pediu um Cadillac vermelho para a produção da cerimônia, para conhecer a cidade. E ele sumiu durante 24 horas com o carro. Foram 24 horas perdidas na vida de Fellini, porque ninguém sabe o que ele fez nesse tempo. O filme é um exercício de imaginação muito louco, uma comédia sobre o que ele teria feito nessas 24 horas.

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Depois que disse brincando ter “muita raiva de gente muito nova e muito talentosa”, Zero Hora quis saber de Wagner Moura com quais diretores brasileiros dessa nova e talentosa gente ele gostaria de trabalhar.

– “O Som ao Redor” é um filme extraordinário, não me lembro de um filme recente que tenha me chapado desse jeito. Aceitaria na hora, agora, um convite do Kléber Mendonça Filho (diretor de “O Som ao Redor”), para fazer o que ele quiser. Tem uma galera muito boa aí, que inclusive ainda está fazendo curta-metragem. Quero trabalhar com diretores que me empolguem. Consigo cada vez mais ter essa independência de escolher um trabalho apenas pela vontade violenta de fazê-lo.

Na véspera do Dia dos Pais, Moura contou qual é seu maior desafio hoje:

– Tenho tentado equilibrar mais meu trabalho com a minha função de pai. Tenho três filhos e tento ficar mais com eles, sem prejudicar meu trabalho, que é muito importante para mim.

Trabalhando também como produtor – o ator é um dos produtores de “Serra Pelada”, filme de Heitor Dhalia que estreia em 18 de outubro e no qual também faz um pequeno papel -, Moura revelou que vai estrear na direção em breve:

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– Tenho um projeto que adoraria contar agora, mas não posso falar ainda a respeito. Eu estou comprando os direitos de filmagem de um livro, tenho um acordo verbal com o autor, mas ainda não assinamos o contrato.

Simpático, inteligente e divertido, Wagner Moura encerrou o encontro com a imprensa afastando a hipótese de um “Tropa de Elite 3” e explicando qual é a diferença entre fazer um filme nos Estados Unidos e no Brasil:

– Filmar é a mesma coisa em qualquer lugar, só muda o dinheiro. E a comida.