A reunião do Federal Reserve (Fed), banco central do Estados Unidos, pode confirmar nesta quarta-feira a retirada de incentivos que vinham sendo injetados no mercado daquele país. Após a crise financeira de 2008, o Fed vem comprando mensalmente US$ 85 bilhões em títulos da dívida do governo, dinheiro que acaba sendo investido em outros países. Na prática, especialistas consideram baixa a probabilidade de que a medida seja tomada nesta reunião:

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– Achamos que isso vá acontecer mais para o começo do ano, no primeiro trimestre. Existem condições que viabilizam a tomada de decisão agora. O Obama se comprometeu a decidir isso esse ano, então pode fazer prevalecer sua promessa. Mas a maioria do mercado acha que isso vem no primeiro trimestre – avalia o economista e diretor executivo da NGO, empresa especializada em câmbio, Sidnei Moura Nehme.

Dilma Rousseff tenta tranquilizar mercado em dia de expectativa

De qualquer maneira, a certeza é de que, se não agora, até março a medida deve ser aprovada. Sendo assim, os impactos na economia mundial e brasileira já podem ser sentidos antecipadamente. Sem os incentivos, menos dólares circulam nos mercados emergentes, o que desvaloriza moedas como o Real. A consequência é um possível enfraquecimento do mercado nacional, além de uma alta no preço do dólar – que atualmente circula entre os R$ 2,33, mas já chegou a R$ 2,45. Nehme avalia que a cotação da moeda pode chegar a R$ 2,50 ao final do primeiro trimestre de 2014 e até R$ 2,60 ao final do próximo ano.

– O Banco Central tem conseguido, com seus instrumentos, conter. Mas quando a medida se tornar efetiva, a pressão será maior e, naturalmente, teremos dólar alto – prevê.

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Segundo José Kobori, estrategista da JK Capital, o ajuste das taxas já começou a ser feito diante da expectativa da retirada dos incentivos nos Estados Unidos e pelo fortalecimento daquela economia:

– O movimento de saída de dólares já começa a ser percebido e é natural. Não só por causa da lei de oferta e procura, mas porque a economia americana começa a gerar atividade e se torna mais atrativa – explica.

Kobori avalia que, em meados de 2013, quando foi anunciada a nova presidente do Fed, Janet Yellen, o impacto na taxa cambial já foi percebido.

– Uma parte dos dólares que iriam embora já foram – diz.

Na manhã desta quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff fez coro ao Ministro da Fazenda Guido Mantega e tentou tranquilizar o mercado, dizendo que o Brasil está “extremamente preparado para quando o Fed começar a reduzir os estímulos”. Os economistas ouvidos por ZH não concordam com as afirmações dos membros do governo e preveem um futuro menos tranquilo para a economia do país:

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– Quando se projeta um déficit de transações correntes de US$ 78 bilhões para o ano que vem, se vê que não devemos ter conforto no câmbio. É um número de largada muito grande, a projeção contradiz o discurso – explica.

O economista diz ainda que a retirada de dólares dos países emergentes afeta principalmente o Brasil, que “está mais vulnerável” e “reúne pouca atratividade’. As causas, segundo ele, são problemas na política fiscal, gastos em ano eleitoral e investimento baixo. Nehme é corroborado por Kobori:

– Acredito que o Brasil não tem recursos (para enfrentar a retirada de incentivos). O Ministro da Fazenda não sabe do que está falando e o mercado não acredita no que ele fala. Quando se olha os parâmetros da economia brasileira nesse governo, se percebe que é complicado.