*Por Robin George Andrews

No início de janeiro, no mesmo mês em que o mundo comemorou o 200º aniversário da descoberta da Antártica, cientistas em motos de neve atravessavam o gelo diamantino, arrastando equipamentos detectores de metal. Os pesquisadores esperavam confirmar uma hipótese de que lá existem meteoritos ricos em ferro, remanescentes de asteroides antigos e de pedaços de possíveis planetas, sob os resíduos congelados.

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Mas o gelo estava tão inesperadamente áspero que o equipamento se despedaçou por inteiro. Os componentes estavam sendo dilacerados e o circuito eletrônico rapidamente se tornou instável, com vários pontos de falha. No 18º dia nos campos de gelo de recuperação externa da Antártica, o dispositivo entrou em colapso. Todas as peças sobressalentes dos detectores de metal já haviam sido usadas. Não havia mais como recuperar a unidade.

"Foi uma morte por vibração, mas também por mil cortes", disse Wouter van Verre, engenheiro elétrico da Universidade de Manchester, na Inglaterra, que ajudou a construir o sistema.

Esse não é um conto isolado. A história da exploração científica da Antártica está repleta de histórias aflitivas, a maioria delas terminando com a morte dos primeiros exploradores do continente. E, embora grandes avanços tecnológicos e regulamentações de segurança amplamente aprimoradas signifiquem que o risco para os aventureiros da Antártica tenha sido bastante reduzido, as falhas no equipamento que congelam as descobertas científicas persistem, afirmou Daniella McCahey, historiadora da Universidade de Idaho especializada em Antártica.

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Quando uma peça vital de um kit falha, a pesquisa geralmente só pode continuar com soluções de engenharia dignas do MacGyver. Ou os projetos se encerram, deixando incertas as perspectivas de novas descobertas.

O Snow Cruiser foi um exemplo inicial de um equipamento malfadado. Pesando 37 toneladas e construído com orgulho em Chicago, em 1939, ele foi projetado para deslizar pelo perigoso terreno antártico com facilidade, permitindo que sua tripulação fizesse observações científicas onde desejasse. No entanto, assim que chegou à Antártica, seus pneus maciços e suaves demais não conseguiram impulsionar a fera com rodas em vastas extensões de gelo. Por fim, após uma tempestade especialmente forte, ele foi abandonado em uma cova na neve.

Mas mesmo uma tecnologia bem menos complexa pode ser vulnerável à crueldade da Antártica: durante a Expedição Transantártica, da Commonwealth, de 1957-1958, o relógio de pulso dos exploradores – vital para saber a hora em um local com horas de luz e escuridão totalmente distintas – simplesmente não funcionou.

"É nitidamente mais fácil manter a máquina humana funcionando do que as máquinas físicas", disse James Lloyd, astrônomo da Universidade Cornell, que passou dois anos na estação de pesquisa Amundsen-Scott, no Polo Sul, em meados dos anos 90.

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A preparação o leva apenas até certo ponto. Você pode testar sua tecnologia quantas vezes desejar em laboratório ou em áreas selvagens semelhantes à Antártica. Aqueles caçadores de meteoritos de ferro fizeram as duas coisas e até conduziram um teste bem-sucedido em um pedaço da Antártica. Antes, porém, de testar no lugar definitivo da sua pesquisa, "você não sabe como as coisas funcionarão", observou McCahey.

Matthew Siegfried, glaciólogo da Escola de Minas do Colorado, assegurou: "Não há projetos na Antártica em que os equipamentos funcionam perfeitamente."

Não há pontos de abastecimento para equipamentos pesados com suprimentos em abundância no fim do mundo glacial, por isso as expedições trazem o máximo de peças de reposição que conseguirem por via aérea e torcem pelo melhor. "É só um pouquinho diferente do que se pode fornecer às pessoas no espaço", disse Liam Marsh, engenheiro elétrico da Universidade de Manchester, que ajudou a construir o sistema de detecção de meteoritos.

Siegfried se lembrou de uma vez em que dirigiu sua moto de neve por 65 quilômetros da base até uma estação GPS remota, trazendo galões de combustível. Quando parou para reabastecer, notou que o cano da bomba manual que alimentava o veículo havia sumido, forçando-o a fazer uma gambiarra com outras peças de seu kit para montar um sistema de transferência de combustível bastante confuso, mas, em última análise, eficaz.

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Van Verre afirmou que esse tipo de reparo ad hoc raramente é agradável. Você rapidamente sente falta do luxo de mesas e cadeiras. As luvas são retiradas para manusear componentes pequenos, deixando as mãos expostas a um frio dolorosamente violento.

Tal dificuldade pode resultar em momentos posteriores de horror. Nelia Dunbar, diretora do Departamento de Geologia e Recursos Minerais do Novo México, se lembra da vez em que teve de trazer uma moto de neve de volta ao acampamento depois que sua corrente de transmissão se rompeu. Durante o reparo, o veículo renasceu repentinamente, acelerou com força máxima em direção às barracas de sua equipe e por pouco não as destruiu.

Mesmo com equipamentos funcionando perfeitamente, a malevolência da Antártica pode ser notavelmente inventiva. Hank Statscewich, oceanógrafo da Universidade do Alasca Fairbanks, visitou o continente, em 2014, para estudar as correntes oceânicas perto de um ponto com bastante atividade biológica. Enquanto estava lá, um imenso iceberg, pulverizando tudo por onde passava, estacionou, de forma totalmente improvável, em cima de sua pequena sonda científica submersa, cortando sua comunicação com a superfície.

Surpreendentemente, meses depois, os restos mutilados da sonda foram encontrados flutuando apáticos, e seu violento encontro com o iceberg fora devidamente registrado por seus instrumentos científicos. A experiência de Statscewich resume a surpreendente realidade das expedições científicas à Antártica: muitos conseguem se recuperar de atribulações tecnológicas aparentemente terminais.

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Isso inclui os caçadores de meteoritos de Manchester, que conseguiram encontrar mais de cem rochas espaciais na superfície, várias ricas em ferro, durante suas aventuras na Antártica. Um meteorito foi encontrado enquanto o cadáver da sonda era arrastado de volta ao acampamento. E, por 18 dias, sua plataforma adaptada reuniu dados valiosos. Como cada uma das conturbadas expedições anteriores, seus dilemas servem como experiências de aprendizado que, com sorte, fazem com que os mesmos contratempos sejam menos prováveis em futuras expedições.

Mas, se o passado serve de indicação, ainda demorará muito tempo até que a destruição arbitrária de equipamentos científicos da Antártica termine.

"É um ambiente que não tem remorso. Se você cometeu algum erro em sua preparação, ele descobrirá", disse Patrick Harkness, especialista em engenharia de sistemas espaciais da Universidade de Glasgow.

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