O retorno como um novo começo
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E, de repente, o ônibus parou, a escola mudou e o comércio fechou. Transformações como essas vêm sendo comuns desde o início da pandemia, quando a circulação de pessoas foi proibida e o abraço, evitado. Mas nem todo mundo parou ou deixou de trabalhar presencialmente. Alguns abraços, naquelas pessoas mais próximas, continuaram sendo dados. Porém, teve um setor da sociedade que parou totalmente em 2020, sem nenhuma exceção: a educação. E isso teve consequências na vida de pessoas como a professora catarinense Jussara Schmitz.
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Quando foi anunciada a paralisação nas escolas, em março, os alunos tiveram que correr para as suas casas, os pais precisaram mudar suas rotinas para dar conta do recado e os professores foram obrigados a inovar mais do que nunca e repensar todas as suas práticas pedagógicas. Tudo era novo, parecia passageiro. Primeiro as aulas presenciais voltariam no começo de abril, depois no final de maio ou no começo de agosto. A esperança de retornar ao ambiente escolar foi indo embora devagarinho.
Professora da rede estadual de Santa Catarina, Jussara Schmitz lembra que o começo foi um momento de turbulência e incertezas e o que a manteve com o pensamento positivo foi a esperança de voltar à sala de aula e rever seus alunos do 4º ano da Escola de Educação Básica Frei Godofredo, de Gaspar.
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Eu não consegui encarar isso de uma maneira legal, acho que ninguém conseguiu. Eu adoeci nesse processo, não conseguia lidar, me sentia muito angustiada. A rotina da escola me faz muito bem e eu realmente tenho paixão pelo meu dia a dia de chão de sala de aula. Nada substitui o olho no olho, o tirar a dúvida da criança de pertinho — relembra Jussara.
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Com o decorrer dos meses, a professora e a própria rede estadual se adaptaram à nova realidade, buscando inovações e ferramentas para atender todos os estudantes. Com diferentes arranjos familiares, os alunos de Jussara tinham necessidades específicas e, por isso, ela se dispôs a dar aula ao vivo de noite para as turmas. Esse era o único momento em que alguns alunos tinham acesso ao único telefone celular da família, quando os adultos voltavam do trabalho.
Para Jussara, uma professora que gosta de aplicar diversas atividades em sala de aula, foi difícil se limitar às alternativas on-line. Algumas crianças não tinham acesso a uma boa internet, outras não tinham o auxílio necessário em casa. A educadora precisou se virar nos trinta para envolver as crianças e oferecer uma educação digna àqueles que estavam participando.
— O que mais me deu prazer foram os momentos das aulas on-line, eu via eles, tinha esses momentos de feedback, foi o que encheu meu coração de felicidade. Houve momentos bem gratificantes. Alguns pais assistiam aulas para aprender junto. Mas, mesmo assim, uma parcela das crianças não conseguiu ter acesso às aulas — conta a professora.
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A dificuldade de chegar até alguns alunos deixou Jussara preocupada e angustiada. Ela sabia que estava fazendo o possível, mas isso não a acalmava. Os momentos de impotência geraram dores pelo corpo da professora.
— Confesso que tive altos e baixos nesse período, tentando sempre me aprimorar, dar uma aula on-line de qualidade e envolver as crianças. As práticas de sala de aula ficaram muito mais difíceis, mas foi um momento de muito aprendizado. Senti meu crescimento profissional.
Apesar da distância, em alguns momentos, os professores se aproximaram das famílias e entraram em suas realidades. Além de lidar com a ansiedade, a educadora de Gaspar precisou ouvir os relatos e acolher cada família. Ela conta que os alunos tinham queixas diferentes e que não era fácil ouvir os familiares sem poder fazer muita coisa. Algumas crianças estavam tristes, outras com insônia e até mesmo com ansiedade.
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Quando Jussara começa a falar deste ano, seu tom de voz muda e mostra a felicidade da professora que pôde retornar à sala de aula.
— É muito melhor falar desse ano, né? Esse ano eu estou muito feliz — desabafa Jussara com um ar de alívio.
Para a professora, 2020 foi um ano atípico e penoso, mas não foi um ano perdido. Nesse retorno às aulas presenciais, seguindo os protocolos da saúde, Jussara conta que é bem visível perceber as crianças que participaram da aula remota no ano passado.
A desigualdade ficou muito aparente — constata.
Mesmo com todas as limitações nas escolas em 2021, Jussara diz que os olhinhos dos alunos em cima das máscaras mostram a alegria de estar de volta. A professora acredita que o retorno presencial pode dar certo e que as crianças estão fazendo a sua parte.
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O mais importante dessa volta, para Jussara, é que mesmo sem se tocar devido ao distanciamento exigido, as crianças conseguem olhar para o lado e ver o colega de turma, entender que estão no mesmo barco e que caminham juntas nesse processo.
— A essência da escola continua. Não tem preço, é muito precioso esse nosso tempo junto. É um momento de ter um olhar sensível com eles, fazer o acolhimento — finaliza a professora.
A pandemia ainda não acabou, está em sua pior fase em Santa Catarina, e a batalha para o enfrentamento do vírus continua, mas o retorno às aulas devolve, pelo menos um pouquinho, a esperança de que dias melhores estão por vir e de que o futuro está logo ali.
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*Com supervisão de Vinícius Dias
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