Vestidos de lantejoulas, babados e saias rodadas. Fantasias artesanais de marinheiro, pirata e melindrosa. Desfiles e festas pra lá de animados, regados a marchinhas e muita serpentina. Há quem diga que o blumenauense não gosta de Carnaval, mas de acordo com estudiosos do assunto era assim que a cidade celebrava a festa há mais de 130 anos.

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Historiadora e diretora de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação Cultural de Blumenau, Sueli Petry conta que as primeiras manifestações carnavalescas no município datam de 1885. Os festejos abriam com o Baile de Máscaras, tradicional evento que ocorria sempre no fim de fevereiro ou início de março na Sociedade dos Atiradores (atual Tabajara Tênis Clube). Conforme relata a historiadora, nos convites para a festa os foliões encontravam recomendações de boa conduta e um guia de regras – entre elas não pular e não dançar separado do par.

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Além disso, pessoas casadas que quisessem dançar não podiam ir ao baile sozinhas. A festa era organizada por um grupo formado por jovens de famílias como Baumgarten, Margarida e Gaertner, que se autonomearam Filhos do Inferno. A parte mais ousada da folia era a publicação do jornal especial Die Schnauze, todo escrito em alemão, em que a comunidade fazia críticas que eram toleradas porque, afinal, era Carnaval.

Na primeira metade do século 20 as festividades saíram dos clubes e foram para as ruas. Quem tinha carro – item exclusivo da alta sociedade – enfeitava o veículo com guirlandas de flores e desfilava pela Rua XV de Novembro. Era também chegada a vez dos chamados bailes hilariantes, com salões ultradecorados, fantasias e serpentinas. Sueli relembra que a tradição se manteve forte na cidade até o fim dos anos 1930:

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– A chegada da Segunda Guerra Mundial combinada à nacionalização de Vargas impediu que as manifestações tidas como alemãs se mantivessem. O Carnaval daqui não era propriamente dito alemão, mas era promovido por descendentes de alemães – explica.

Saem as festas, entram as praias

Foram 20 anos de silêncio até que a alegria retornasse às ruas e aos salões de Blumenau. Nas décadas de 1950 e 1960 os clubes voltaram a promover noites de folia e domingueiras, além de festas infantis. Os anos dourados do Carnaval eram recheados de eventos no Teatro Carlos Gomes e clubes como Guarani e Ipiranga.

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Porém, diferentemente do início do século, quando os blocos aproveitavam para fazer críticas políticas e sociais em marchinhas autorais, o discurso foi trocado pelas influências de músicas do rádio. Não demorou até que a elite perdesse o interesse pelos bailes e o Carnaval de salão sumisse do calendário de Blumenau.

– Em 1970 e 1980 a municipalidade tentou reavivar a festa, mas não fluiu. Aquela emoção de organizar e participar acabou. Blumenau acabou, com o passar dos anos, se tornando uma cidade muito voltada para o trabalho. Isso, é claro, até o surgimento da Oktoberfest – opina Sueli.

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Na década de 1990 o Bloco Movidos a Álcool (Moval) da Associação Amigos do Banco do Brasil (AABB) se popularizou ao desfilar pela cidade de forma inusitada: eram cerca de 100 homens animados, que se vestiam de mulher e saíam fazendo festa pela rua. Outros grupos que ganharam destaque foram a Escola de Samba Mocidade Unidos do Salto do Norte, fundada em 2007 e que desfila até hoje, e o Bloco Pé na Jaca, de 2014.

– Foi uma época muito gostosa e divertida, só tenho boas lembranças e nunca deu confusão. Naquele tempo não tinha nada parecido na cidade, a gente ia festar com espírito de brincadeira mesmo. Pouco antes dos anos 2000 o grupo chegou ao fim – recorda João Almeida Camargo Neto, professor de 55 anos que costumava participar do Moval.

Para o cientista social e pesquisador de História Adalberto Day, o Carnaval perdeu a força em Blumenau principalmente porque as pessoas começaram a rumar para as praias, e trocar a folia pelo descanso:

– A Prainha era onde as pessoas iam para se refrescar no verão. Quando elas começaram a rumar para Balneário Camboriú, Itapema e Navegantes, tudo mudou – sublinha.

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