O ano de 2016 começou com o gosto amargo do desemprego para muitas famílias joinvilenses. Com o fechamento de quase 7 mil vagas até novembro de 2015, centenas de pessoas já estão batendo à porta das agências de recrutamento, mas as oportunidades são poucas.
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Uma delas foi anunciada pela rede Condor. Por meio do Centro de Apoio aos Trabalhadores (Cepat), abriu 400 vagas para o supermercado, em construção em Joinville.
O município foi quem mais demitiu trabalhadores em Santa Catarina de janeiro a novembro do ano passado e os especialistas não conseguem prever quando estas vagas serão repostas. As ofertas são pontuais.
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Isto acontece porque a cidade tem perfil industrial, com muitas empresas ligadas ao setor de bens duráveis (como automóveis e eletrodomésticos) e de produção (como máquinas e equipamentos), fortemente atingidos pela redução da atividade econômica no País.
De acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, as empresas podem realizar novas demissões neste primeiro semestre se o cenário econômico não melhorar (confira entrevista mais abaixo).
Nas duas primeiras semanas de janeiro, o Cepat de Joinville encaminhou mil pedidos de seguro-desemprego. O diretor-executivo Mário José Leal estima que o mês deve terminar com número semelhante a novembro último, quando houve 1,7 mil pedidos de seguro-desemprego.
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O dado não significa fechamento de vagas, pois o profissional pode ter sido substituído, mas é um termômetro do momento, especialmente quando se observa que não há mais faixas de empresas anunciando contratações, diz Leal.
O presidente do sindicato dos trabalhadores na indústria de material plástico, Silvio de Souza, contabiliza 50 demissões nas duas primeiras semanas de janeiro, menos do que nos últimos meses.
Para Souza, as empresas já fizeram os ajustes de quadro em novembro e dezembro. Ele não acredita em novas demissões até final de março em função do período de estabilidade que antecede o dissídio da categoria, em abril.
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Empresas fazem mudanças estratégicas
Neste início de ano adverso, as empresas realizam pequenas mudanças nas equipes, com dois objetivos: substituir profissionais por outros com custo menor ou por especialistas que podem fazer a diferença, explica o diretor de comunicação da ABRH-SC, Pedro Luiz Pereira.
Segundo ele, é o que acontece na área comercial. Como as empresas não conseguem expandir as vendas, o jeito é tentar “roubar” mercado da concorrência, o que exige uma área comercial forte. Nesta hora, as lideranças questionam a competência dos profissionais da casa e, às vezes, há troca ou ampliação do número de profissionais.
As organizações também estão olhando para dentro de casa, tentando encontrar formas de aumentar a produtividade e reduzir custos e a busca inclui encontrar no mercado profissionais de tecnologia, que se destacam em softwares para melhoria de processos, e aqueles especializados em gestão de orçamento.
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Segundo o diretor, empresas de exportação também contratam especialistas de exportação e importação.
Na agência de recrutamento Meta RH, as poucas oportunidades corporativas concentram-se em vagas técnicas e de analistas. Fora deste ambiente, a coordenadora de recrutamento e seleção, Giselle Arntz, ressalta que há procura por trabalhadores que se destacam em serviços gerais como encanador, pintor ou roçador de grama.
Na fábrica: muita procura, pouca oferta
A pouca oferta de emprego na área de produção contrasta com o número de profissionais que desde o início de janeiro procuram agências de recrutamento. Muitos foram demitidos no primeiro semestre do ano passado e o seguro-desemprego já terminou, explica Giselle Arntz, da Meta RH.
Na RH Brasil o cenário não é diferente. A agência recebe de 600 a 700 candidatos por dia, a maioria com perfil operacional. E na disputa por uma vaga, vale a pena comparecer com o currículo.
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A psicóloga da RH Brasil, Aline Crivelli, explica que, antes de oficializar a vaga nos meios formais, é realizada uma consulta rápida na portaria para checar se algum candidato da fila se encaixa. A seleção pode ocorrer ali mesmo.
Um receio comum de quem trabalhava na indústria é migrar para outro ramo de atividade, visto como algo que poderia “sujar a carteira”. Isto pode ocorrer em empresas mais conservadoras, segundo especialistas, no entanto, devido ao cenário de crise, este receio perde força porque o empregador entenderá que foi a única opção que restou.
Para o diretor da ABRH-SC, Pedro Luiz Pereira, 2016 vai ser um ano difícil.
– Os que estão empregados devem mostrar resultado, ser mais profissionais do que já são ou que necessitariam ser. Quem está desempregado tem que ter persistência e estudar a possibilidade de ir para outra cidade. Não dá para pensar, nesse momento tem que abraçar, pois está difícil abrir vagas de acordo com a expectativas – complementa.
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ENTREVISTA:
Glauco José Côrte, presidente da Fiesc
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Côrte, diz que o ano de 2015 foi um dos piores para o emprego no País e no Estado. Confira o que ele pensa sobre o atual cenário.
Fechamento de vagas
– De janeiro a novembro de 2015, o setor privado no Estado fechou mais de 30 mil vagas de trabalho. O Brasil gerou mais de 1 milhão de desempregados, e isso reflete pesado na economia e nas famílias.
2016
– Nossa expectativa é de continuidade do processo de deterioração do mercado do trabalho. Devemos ter, sobretudo no primeiro semestre, queda no nível de emprego, pois além de termos uma economia em recessão, o setor produtivo vai sentir os efeitos da elevação de contribuição sobre a folha de pagamento.
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Balança comercial
– O Brasil só teve saldo na balança comercial em 2015 por causa da queda das importações. Em Santa Catarina, a queda nas importações deveria ajudar, gerando um movimento de se produzir localmente porque ficou caro importar, mas isso não aconteceu ainda.
– Talvez a partir desse ano poderemos verificar a troca de produtos importados por catarinenses e isso tende a ajudar um pouco a produção local. É importante destacar que o peso de nossa importação é insumo para usar no processo produtivo e, com o seu encarecimento, as indústrias tendem a sentir aumento dos custos.
Medidas
– Temos que ter medidas de estímulo à geração de empregos e isso passa pela retomada do investimento, especialmente de obras de concessão, obras de logística do País. Se o Brasil conseguir avançar nessa questão, o ambiente começa a melhorar.
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Mensagem
– O pior do ambiente recessivo é não acreditar que somos capazes de superar, e assumir posição de encolhimento, conformismo com a crise. É preciso reagir, olhar para dentro, melhorar a produtividade do trabalhador, aproveitar para investir na capacitação dos profissionais. Certamente vamos superar a crise e temos que estar preparados para retomada.