Até o último segundo ao lado da mãe, o menino que foi “fruto de um milagre” não mediu esforços para tentar salvar a vida da mulher que o gerou e o criou durante uma década. O garoto, de apenas 10 anos, acabou atingido no peito por um golpe de faca ao defender Flávia de Paulo Carvalho, de 46 anos, que foi morta pelo companheiro dentro da própria casa, em Balneário Camboriú. A criança segue internada no hospital, mas o quadro é estável, de acordo com a família.

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Para a filha mais velha de Flávia, Aline Franciele Carvalho Santos, o irmão caçula transformou a vida da mãe desde o momento em que ela descobriu a gravidez por acaso. Isso porque, inicialmente, a mulher havia sido diagnosticada com um câncer maligno. Com a notícia, Flávia chegou a entrar em depressão e passou por um momento bastante delicado, conforme recorda a filha. No dia em que foi fazer uma cirurgia para retirar o útero, no entanto, veio a surpresa: o “câncer” era, na verdade, um bebê.

Ela já estava grávida de seis meses quando veio a descoberta. A novidade causou uma reviravolta no destino da mulher, natural de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Dois meses depois, nasceu o primeiro filho menino de Flávia, que, à época, já tinha outras quatro filhas. Aline, a mais velha, conta que a família sempre buscou manter os dois juntos desde a chegada do irmãozinho.

Mesmo com apenas 10 anos, o menino já tinha ciência de que precisava estar ao lado da mãe para ajudá-la quando necessário, já que Flávia tinha problemas de saúde.

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— Ele é um milagre na vida dela. Sempre foi um anjo para ela. Tanto é que ele foi um herói. Ele tentou salvar ela — ressalta Aline.

O contato diário com a mãe fez a criança notar que havia algo errado no relacionamento que a mulher mantinha com o atual companheiro. O garoto contava às irmãs que se sentia desprezado e era maltratado pelo homem, o que também era percebido pelo restante da família.

— Quando o meu irmão vinha para a minha casa, ele relatava que os dois viviam um relacionamento difícil. Sempre contava que morria de medo de que esse homem fizesse alguma coisa para a minha mãe — relembra Aline.

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Segundo Aline, ninguém concordava com a relação de Flávia e o companheiro, que é natural do Paraná. A filha recorda, inclusive, que o homem não gostava quando a família ficava por perto, pois queria Flávia “só para ele”. Um relacionamento conturbado que durou quatro anos.

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Em dezembro de 2023, o homem convenceu a mulher a se mudar para Balneário Camboriú, onde os dois moravam atualmente, com o filho caçula de Flávia. No último sábado (20), ele atacou a companheira com golpes de faca. O menino, de 10 anos, tentou intervir e acabou atingido também.

A mãe de Aline não resistiu aos ferimentos e morreu. À Polícia Militar, o homem confessou o crime e relatou que fez isso porque viu no celular de Flávia uma conversa com outro homem. Ele foi preso em flagrante e permanece detido.

A filha mais velha ainda conta que soube da morte da mãe no dia do aniversário, no último domingo (21), quando completou 31 anos. Já Flávia chegaria aos 47 anos no próximo sábado (27).

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Para Aline, a mãe sempre será lembrada como uma mulher alegre, espontânea e batalhadora, que não media esforços para ajudar o próximo. Agora, além de manter a memória de Flávia viva, a família também vai à luta por justiça.

— O sonho da minha mãe era abrir um restaurante, porque ela sempre foi da cozinha. E ele [o companheiro] enterrou tudo isso junto com ela — desabafa.

O sepultamento de Flávia deve ocorrer a partir das 21h desta terça-feira (23), assim que o corpo chegar ao Rio Grande do Sul. A cerimônia de despedida será feita em Cruz Alta, onde vive a família.

*Sob supervisão de Talita Catie

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