Pelo segundo ano consecutivo, o 23 de março não terá festa para celebrar o aniversário de Florianópolis. A exemplo do ano passado, a pandemia imobilizou o boi de mamão e as danças folclóricas; silenciou as feiras de artesanato e de gastronomia. Para evitar aglomerações “a moça faceira” terá que ficar em casa, pois nem o bom e velho Ricaldinho da Ilha teremos para comemorar os 348 anos da Capital do Estado.
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Se juntar para cantar o “Ranho de Amor à Ilha”, o hino da cidade, composto pelo genial Zininho? Só se for “perdido no mar”, pois em cada “pedacinho de terra” recomenda-se o distanciamento como forma de conter o coronavírus, a segunda pandemia que por aqui desembarcou.
A primeira foi a gripe Espanhola (1918-1919), e que de espanhola só tinha o nome. Cerca de 19 mil pessoas foram infectadas, o equivalente a 30% da população da época, e fez 124 óbitos. A pandemia de hoje já tirou a vida de 636 (dados até a última quarta-feira, 17) moradores da cidade com 508 mil habitantes. Mas com um dado alarmante: são 65,6 mil os florianopolitanos contaminados, dos quais 3,5 mil são casos ativos do vírus.
Números que entristecem e ao mesmo tempo servem de atenção. Criada em frente ao mar, no Ribeirão da Ilha, a enfermeira Raquel de Siqueira, 38 anos, ainda lembra de como Florianópolis estava um ano atrás, quando a comemoração do aniversário da cidade também não pôde ocorrer como de costume. Naquela ocasião, as ruas estavam desertas por conta do lockdown. Coordenadora do Centro de Saúde no Balneário do Estreito, Raquel lembra que a rotina de trabalho mudou de um dia para o outro.
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Como profissional da saúde, Raquel era parte do grupo de trabalhadores essenciais que estava autorizado a circular pela cidade, e ao sair para o trabalhar lembra do choque em ver a Capital praticamente vazia.
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— Florianópolis estava sempre cheia de pessoas circulando, era muito estranho não ver isso, ou ver as pessoas na rua e pensar “o que elas estão fazendo aqui que não estão em casa se protegendo?”.
As duas realidades eram difíceis de assimilar. Assim como é quase inacreditável para ela ver que, um ano depois, tudo parece ter voltado ao normal, mesmo que os números de casos ativos da doença e de mortes causadas pelo vírus estejam longe de apresentar qualquer sinal de queda. Para Raquel, o cenário pode ser um reflexo do comportamento da sociedade, que não se protege mais e segue sem querer acreditar na gravidade da situação.
— Tem muita gente que ainda não acredita no potencial do vírus e não acredita na vacina, mas acredita em tratamentos não comprovados. Muitos tiveram a doença leve e isso faz com que menosprezem a pandemia e relaxem no comportamento. Todos estamos cansados, mas mais do que nunca a gente precisa ter a consciência coletiva de cuidar de si mesmo e dos outros. Quanto mais gente contaminada, mais a possibilidade de não ter leitos e mais mortes vamos ter. Precisamos parar de pensar tanto no individual e esperar que logo tenhamos vacina para todos.
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Esperança com a chegada da vacina
Em meio à tristeza em ver os casos subindo, a chegada da vacina despertou nela um sentimento de esperança. Enfermeira de atenção primária, Raquel tem o foco da prevenção e promoção à saúde na rotina de trabalho e, mesmo sem dose suficiente para imunizar todos, se alegra em estar na linha de frente da vacinação. E a felicidade dela é ainda maior por um motivo particular: sem chegar perto do próprio pai há mais de um ano para protegê-lo da doença, ela viveu uma experiência única ao poder vaciná-lo contra o coronavírus.
— Fico emocionada. Depois de um ano de pandemia consegui tocar no meu pai. Isso era uma coisa que eu não tinha mais feito para não expor ele. Saber que daqui uns 10 dias eu vou tocar nele de novo pra aplicar a segunda dose é muito bom mesmo – conta.

Apaixonada por Florianópolis e pela praia, a profissional da saúde também sente falta de um mergulho no mar. A enfermeira reforça que agora é o momento de abrir mão daquilo que gostamos por um motivo maior: a nossa saúde.
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— Floripa é a cidade mais linda que conheço, tem as praias mais lindas, é a cidade do meu coração e sou apaixonada pelo mar, sinto falta. Mas a gente precisa lembrar que as praias vão continuar ali, só que a gente é que pode não estar. Quanto mais a gente se preservar agora, antes a gente vai poder voltar ao normal – pede Raquel.
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Além de abrir mão dos passeios e idas à praia, as atividades físicas passaram a ser feitas dentro de casa, as comemorações de eventos ocorrem apenas de forma virtual e a saudade da família aperta, mas a vontade de garantir que todos fiquem bem é ainda maior.
— Passar um aniversário, um Ano Novo, um Natal separados, nesse momento, é necessário para que a gente possa passar o resto da nossa vida juntos – conclui ela.