Há 150 anos nascia o Cruz e Sousa, o maior poeta simbolista brasileiro. Filho de escravos, conseguiu vencer o preconceito para ganhar merecido lugar no altar dos mestres da literatura brasileira. Na data em que o mundo lembra de sua poesia, Florianópolis, a cidade em que nasceu, presta a ele justas homenagens.
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Intervenções artísticas
O escritor catarinense é lembrado desde às 6h30min, no centro de Florianópolis, com a intervenção artística Um Abraço Negro, no Terminal de Integração do Centro. A homenagem prossegue ao longo do dia com várias atividades pela cidade.Durante toda a manhã, o personagem que interpreta o escritor circulará pelas ruas centrais, em especial no entorno da Praça 15 de Novembro, que está enfeitado com banners.
Às 10h, será depositada uma coroa de flores no busto do poeta catarinense instalado na Praça, com música e poesia. Ao meio-dia, há a apresentação da Coletivo Nega com Um Abraço Negro no Largo da Catedral. Às 17h, a performance ocorre no calçadão da Felipe Schmidt, nas imediações do Palácio Cruz e Sousa.
Poesia
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Às 18h, os terminais de ônibus de Florianópolis serão tomados pela poesia de Cruz e Souza. Atores recitarão poemas para marcar a data de aniversário do poeta. Também serão distribuídos 1,2 mil livros à população no projeto Projeto Lendo Cruz e Sousa.
Às 18h30min, a prefeitura lança um selo, produzido pela Empresa de Correios e Telégrafos, e um carimbo em comemoração aos 150 anos de nascimento de Cruz e Sousa. O evento ocorrerá no Palácio Cruz e Sousa, com apresentação da banda da Polícia Militar do Estado, presença da cantora Maria Helena e declamações de poemas do ator João Batista. A atriz Solange Adão também interpretará uma música em ioruba, uma língua africana.
No selo há uma imagem que retrata a paisagem urbana de Florianópolis em 1988, a então Desterro. Em sobreposto há a imagem da face de Cruz e Sousa. O selo é de autoria de Joseph Bruggemann.
Círculo de Leituras
Na Biblioteca Universitária da UFSC haverá uma edição especial do Círculo de Leitura de Florianópolis, que tem como temas a vida e a obra do grande simbolista catarinense. A partir das 17h desta quinta-feira no hall do auditório Elke Hering Bell, haverá um coquetel acompanhado de declamações e de uma performance poética a cargo do ator Lau Santos.
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Uma hora depois, começa o Círculo, com a participação de convidados como as escritoras Inês Mafra, que fez sua tese de doutorado sobre o poeta, e Eglê Malheiros, autora de uma peça de teatro que tem Cruz e Sousa como mote, e o vereador Márcio de Souza, que se manifestará sobre a questão da negritude, um dos temas caros ao autor de Missal e Broquéis.
Game
Outro destaque na programação é o lançamento do demo de um game que está sendo produzido sobre Cruz e Sousa, com o objetivo de popularizar a obra do escritor catarinense. Jovens de 14 a 17 anos do Projeto Novos Talentos, do Programa SC Games, estão pesquisando sobre Cruz e Sousa para desenvolver uma linguagem atraente utilizando uma ferramenta moderna.
Televisão

Maria Ceiça ae Kadu Carneiro em filme de Sylvio Back
Os 150 anos do nascimento de Cruz e Sousa também serão comemorados na RBS TV e na TV UFSC.
Na RBS, a data será lembrada em reportagens especiais no Bom dia Santa Catarina, Jornal do Almoço e RBS Notícias.
Na TV UFSC, às 22h, o cineasta Sylvio Back e a escritora Eglê Malheiros participam de um programa na TV UFSC sobre a história de vida, a importância e a data histórica dos 150 anos de morte do poeta Cruz e Sousa. Depois, às 23h, será exibido o filme Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro, de 1998.
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Medalha para fazer história
Desde 1994, o Governo entrega a Medalha de Mérito Cultural Cruz e Sousa a autores de reconhecidas obras literárias, artísticas, educacionais ou científicas relativas ao Estado de Santa Catarina ou a pessoas que tenham contribuído para o enriquecimento ou para a defesa do patrimônio artístico e cultural catarinense. Nesta quinta-feira, a medalha será entregue no Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis, em solenidade apenas para convidados, a partir das 20h.
Confira quem foi Cruz e Sousa
O mestre do simbolismo no Brasil nasceu em Desterro, em 24 de novembro de 1861.
Negro, filho dos escravos libertos Guilherme da Cruz e Carolina Eva Conceição, foi educado com ajuda dos ex-senhores da família – o Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa Clarinda -, que deram a João da Cruz o sobrenome Sousa da família.
Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, onde aprendeu francês, latim e grego. Aos 20 anos ingressou no jornalismo e trabalhou nos jornais Colombo, O Moleque e Tribuna Popular, com o escritor e amigo Virgílio Várzea, com quem publicou Tropos e Fantasias, em 1885.
O escritor viveu uma espécie de exílio em sua terra natal, enfrentando dificuldades financeiras, sofrimentos familiares e a discriminação da sociedade. Foi incompreendido por seus versos simbolistas e pela poética que o colocou ao lado da vanguarda francesa.
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Por sua obra inovadora foi rejeitado pela Academia Brasileira de Letras, além de ser acusado de ter vergonha de ser negro. Cruz e Sousa mudou-se para o Rio de Janeiro em 1890, e lá conheceu Gavita Rosa Gonçalves, também negra, com quem se casou.
Teve com ela quatro filhos, que morreram cedo, vítimas da tuberculose. A doença também vitimou o escritor levando-o à morte em Minas Gerais, aos 36 anos de idade, em 19 de março de 1898.