O criminoso menciona que chegou à Penitenciária de São Pedro de Alcântara a informação de que ele teria sido decretado – termo usado para se referir aos jurados de morte – pela organização de São Paulo. O líder do PGC diz que “isso não existe, pois o que mais queremos é ter um bom entendimento para resolver a situação”. Mas este discurso pacifista não existe em comunicados de Evandro feitos aos seus subordinados.

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Em outra carta, ele declara que não aceita batismo do PCC no Estado e afirma que os paulistas não podem ficar mandando “o pessoal deles para Santa Catarina”. Ameaça dizendo que “aqui não existe filho de pai assustado” e acrescenta que se os rivais matam, aqui não será diferente, seja nas ruas ou dentro das cadeias.

A disposição para assassinatos aparece em outra carta ao conselho do PGC, como é chamado o 2º ministério. O texto menciona que há um integrante do PCC acusado de ser delator e que está jurado de morte. O crime só não foi executado porque era preciso esperar um posicionamento do PCC. A demora em dar um retorno irritou a organização catarinense.

No entendimento de alguns policiais das instituições de segurança pública catarinenses, o PGC tornou-se um mal necessário, porque ele impede o avanço dos criminosos paulistas no Estado. A aniquilação do grupo deixaria uma estrutura organizada à mercê de uma organização muito mais violenta e capitalizada, como é apontada a de São Paulo. Por este motivo, uma corrente defende que o melhor a fazer não é extinguir o PGC, mas sim administrá-lo.

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Embate levaria a banho de sangue

As animosidades entre PGC e PCC são cada vez maiores e foram agravadas com a morte de um parente de Daniel da Rosa, nome tão forte dentro da facção catarinense que ele também foi enviado para uma penitenciária federal, em fevereiro. O alvo foi assassinado por ordem da organização paulista, mas um acordo entre os dois lado determina que antes de qualquer execução, é preciso aval da outra facção. A avaliação é de que ambas só não declaram guerra porque têm muito a perder.

A primiera providência do PGC seria matar os integrantes do PCC que estão no sistema prisional catarinense. E eles não são poucos. A maioria, criminosos batizados nas cadeias do Mato Grosso do Sul, onde foram parar quando buscavam drogas nas fronteiras com o Paraguai e com a Bolívia. A organização catarinense também teria baixas de integrantes que estão presos em São Paulo, mas estas seriam bem menos numerosas.

A guerra também não acontece porque não seria vantajoso para o PCC se desgastar nos morros e favelas do Estado. Mesmo mais poderoso, ele precisaria de bastante tempo para aniquilar os rivais e, com certeza, haveria baixas em sua linha de frente. Também existem fatores alheios à violência que freiam o conflito.

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O PGC reuniu argumentos para justificar sua resistência. Os líderes alegam que o PCC teve uma década para lançar sua ideologia no Estado, mas não tomou iniciativa. Pelo raciocínio, agora não teria legitimidade para impor um acordo. Este argumento foi usado para negar a tentativa de parceria feita em 2006.

Na ocasião, a oferta era rasgar o estatuto do PGC e seguir as regras da organização paulista. A proposta dos catarinenses foi de que os dois grupos “corressem juntos” e mantivessem seus estatutos. Não houve aliança e as consequências foram grandes e duradouras. Nelson de Lima, o Setenta, queria o acordo e mesmo sendo um dos fundadores do PGC. Acabou expulso da quadrilha local. Outro desdobramento é a tensão permanente entre as facções.

A Polícia Civil acredita que a guerra entre as duas facções seria benéfica para as investigações. Quando elas estão disputando pontos de tráfico, o número de informantes aumenta muito. Os criminosos revelam informações sobre carregamentos e crimes dos rivais. Desta maneira, seria possível inclusive saber quem são os representantes do PCC no Estado, algo que ainda não está totalmente esclarecido. A ideia é que na disputa das facções o vencedor seja a Polícia Civil.

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