Em entrevista para Sônia Bridi ao Fantástico, que foi ao ar na noite de domingo (6), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou sobre os episódios de importunação sexual de Silvio Almeida, disse por que demorou para levar o caso a público e refletiu sobre a violência que atinge mulheres em diferentes cargos. Até então, ela não havia falado publicamente sobre o assunto.

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Na conversa, Anielle comentou que as abordagens inadequadas por parte do ex-ministro dos Direitos Humanos, demitido após as denúncias, perduraram por mais de um ano. Segundo ela, tudo começou com “falas e cantadas mal postas” e foi se escalando para “um desrespeito” pelo qual não esperava “até situações que mulher nenhuma precisa passar”. Ela também comentou sobre os toques inadequados e declarou que ele “era bem desrespeitoso”.

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— A gente tem pelo menos 30 milhões de mulheres no país que vivenciaram ou vivenciam algum tipo de violência ou de importunação sexual ou de assédio. E não é normal a gente passar por isso em pleno 2024, independente de quem faça, sabe? Você tocar, assediar ou violentar o corpo de uma mulher é uma das coisas mais abomináveis que pode existir. Mas é por isso, Sônia, que toda vez que eu preciso falar sobre isso, lembrar disso, eu digo para mim mesma que, sim, Anielle foi vítima. Mas Anielle, hoje, enquanto ministra de Estado, enquanto mãe, feminista, negra, irmã, tem uma responsabilidade também nesse lugar de combater e de fazer com que esse país vire um lugar melhor para todos nós — disse.

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A ministra também foi questionada se o fato de Silvio ser um homem preto ocupando um cargo onde é difícil pretos chegaram no Brasil foi um dos entraves para que ela se manifestasse sobre o assunto. Em resposta, ela destacou que “nenhuma violência cometida por um indivíduo pode resumir ou diminuir a luta e a conquista do movimento negro”. 

— Uma luta que é histórica, uma luta que é de resistência. Assédio é assédio, violência é violência, importunação é importunação. Isso precisa ser combatido, independente de quem faça, independente de questão social ou racial. Isso precisa ser combatido. Isso não é tolerável. Não pode ser — completou.

Silvio Almeida nega as acusações

Assim que a denúncia tornou-se pública, Silvio Almeida publicou uma nota no  site do Ministério dos Direitos Humanos e um vídeo nas redes sociais em que negava as acusações. Na ocasião, destacou que repudiava “mentiras e falsidades” que estavam sendo divulgadas contra ele.

Questionado por Sônia Bridi, o advogado de defesa do ex-ministro, Nélio Machado, reforçou que ele “nega veementemente todas essas referências feitas em desfavor dele”.

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— Em segundo lugar, e o mais importante, é que essa investigação, para a defesa, continua sigilosa. Nós não tivemos acesso a nenhum depoimento — nem da ministra, nem de outras pessoas. Sabemos através da imprensa. O que não é razoável é que, em plena vigência da Constituição, que se chama de ‘Constituição Cidadã’, a defesa saiba de episódios esparsos a partir do noticiário, da imprensa escrita, falada, televisada. Evidentemente, quando esses fatos forem impostos – esses fatos não, essas versões -, vamos contraditar todos eles e a verdade vai prevalecer — disse o advogado.

Em setembro, a Polícia Federal pediu a abertura de um inquérito para investigar as denúncias e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela abertura da investigação.

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