Pouco valorizado pelas notícias esportivas do país, ao entrar entre os oito melhores atiradores da modalidade olímpica Pistola de ar de 10 m, as atenções da imprensa se voltaram ao paulistano de 24 anos, Felipe Wu. A cada tiro, a possibilidade de uma medalha para o Brasil era maior e o país se encantava com um esporte praticamente coadjuvante no RIO 2016.
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O entusiasmo pelo improvável, pelo que surpreende o mainstream, sempre foi o pote de outro no fim do arco-íris para o sport movie em Hollywood. As histórias de superação, o inesperado ou a mágica dos esportes se tornam reverências para muitos diretores. Carters, McFarlands, D’Amatos e Haskins carregam semelhanças gritantes no estilo de guiar as jornadas dos jovens atletas do basquete, do baseball, do futebol americano, do boxe, entre outros. Seus diretores, todavia, propõem óticas diferentes nas cinegrafias ou em suas ficções motivacionais.
A história nos mostra que você pode individualizar um drama esportivo, como em O Invencível, O Lutador, Rocky e Touro Indomável; pode entrar no corporativismo e nos bastidores, como em Senna, Arremesso de Ouro, A Grande Escolha, Um Homem Entre Gigantes e Programado Para Vencer; ou usar o esporte como pano de fundo para romper barreiras e debater a sociedade – Desafio à Corrupção, Basquete Blues, McFarland dos EUA e Duelo de Titãs.
Dentre os exemplos de grandes retratos esportivos, eu destaco ao menos 20 longas-metragens inesquecíveis: Rocky, um Lutador, O Lutador, Touro Indomável, Creed: Nascido Para Lutar, O Vencedor, O Homem Que Mudou o Jogo, Carruagens de Fogo, Guerreiro, Rush: No Limite da Emoção, Basquete Blues, Campo dos Sonhos, Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo, Grand Prix, Maldito Futebol Clube, Senna, Ali, Escorregando Para a Glória, Tudo Pela Vitória, Nós Somos os Campeões e Gigantes de Aço. Aí estão o documentário, a comédia, o cinemão infantil clássico e o drama inspiracional.
Grande parte desses longas-metragens movidos pelo ambiente familiar influenciando uma equipe seguem um padrão, observe. Enquanto um arremesso percorre cada polegada de um campo, a montagem recorrente aponta para os pensamentos do protagonista, sua família, o que ele passou até então, para chegar naquele lance. Em Somos Tomos Marshall, por exemplo, a vitória de um jogo é só o que nos importa. O resto do campeonato, não. É somente aquele momento. E quem faz parte dele. Homens dispostos a se sacrificar por um jogo que pode mudar suas vidas.
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“Estamos diante de uma competição, onde a guerra não existe. Um lugar que, desde antes de cristo, as tropas decidem parar suas conquistas para fazer partes desses jogos, os quais lhe dão mais honra em vencer um homem do que matá-lo”, diz um soberbo Donald Sutherland, em seu discurso, no filme Prova de Fogo, de 1998. Um exemplo clássico de sport movie. Puxando as palavras do técnico, num tatame, num gramado, na areia, ali está um espaço em que um atleta pode fugir de sua realidade opressora, sem apoio e batalhadora. Tal como Rafaela Silva, que foi da Cidade de Deus ao Ouro Olímpico, quando voltamos à realidade.