A batalha entre homem e a natureza não é uma novidade. A sobrevivência, tampouco. Alguns bons exemplares chegaram até as telas catarinenses nos últimos anos: As Aventuras de Pi, Até o Fim, Invencível e outros. Em determinado momento de No Coração do Mar, uma discussão entre o capitão e o primeiro imediato evidenciam exatamente uma das perspectivas buscadas pelo cineasta Ron Howard (Apollo 13 e Rush: No Limite da Emoção), que aqui se mostra num dos piores momentos da carreira. O americano flerta com a moral cristã em diversos instantes do longa-metragem, quando raciocina sobre o abandono de Deus àquelas pessoas ou a aleatoriedade da vida. Ele estaciona em todos os seus anseios narrativos – os dias à deriva, por exemplo, apenas são sentidos pelo público em razão dos letreiros pontuais que nos lembram da situação vivida pelos personagens. O mesmo para a caça de baleias, que passa despercebida diante do melodrama criado para representar desde o início que algo está prestes a mudar a rotina daquela embarcação. Se no livro de Nathaniel Philbrick os detalhes sobre as vidas dos baleeiros e os dias enfrentados no mar são importantes, no filme de Howard são apenas um empecilho para chegar até a grande baleia branca. Com isso, o drama enfrentado pelos baleeiros é diminuído constantemente por essa vontade de aventura do seu diretor. Cenas mais trágicas, como a decisão de se alimentar da própria tripulação, tornam-se pouco melancólicas e cruéis – e a própria saída utilizada para não mostrar qualquer traço de sangue evidencia sua covardia. Da mesma forma, uma das cenas mais despropositadamente hilárias do ano provém de um encontro de olhares entre Owen e a baleia, que parecem chegar a um último acordo sobre o lugar de cada um. E é uma surpresa que Howard não pense em colocar uma narração em off do animal falando algo como “e nunca mais voltem aqui”, pois é o tipo de aventura que parece insistir em dirigir.
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Confira o trailer do filme
Dentro do cinema
Na sessão de segunda-feira de No Coração do Mar, para a qual fui convidado, tive uma grande surpresa ao descobrir (após chegar ao local) que ela seria transmitida em 3D dublado. Uma imposição que se torna cada vez mais recorrente no país por distribuidoras que já tentam familiarizar o público com a falta do áudio original em trailers dublados, exibidos antes de filmes legendados, e em pré-estreias. Não assistia a um filme dublado há cerca de 10 anos, desconsiderando animações. Foi uma valiosa surpresa me deparar com uma dublagem tão terrível – no caso, tanto quanto o próprio longa, portanto. Os inúmeros problemas de mixagem de som são os mais assustadores. Um simples gemido, ofegar ou longínquo desabafo (“vamos todos morrer!”) são sempre sobrepostos de uma maneira que prejudica os esforços dos atores em passar naturalidade para as sequências – além de afetar os sons no casco da embarcação, por exemplo. Uma experiência terrível.
Dentro do personagem
Há algumas semanas, Chris Hemsworth publicou uma foto sua dos bastidores de No Coração do Mar, ressaltando a incrível perda de peso para o papel no filme de Ron Howard. É a chance de você analisar a entrega do ator para o papel, pois isso nunca é visualizado no longa.
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