Em um modelito discreto, com fala mansa e maquiagem leve. Assim, Andressa Urach recebeu uma dezenas de leitores que se aglomeravam em uma fila extensa no lançamento do livro “Morri para Viver“, editado pela Planeta e com preço médio de R$ 37, neste sábado, na livraria Catarinense do Continente Shopping, em São José. Muito diferente da imagem tão conhecida da ex-modelo, que ostentava um corpo malhado em aparições polêmicas e que ficou ainda mais “famosa” depois de quase perder a vida em função de procedimentos estéticos mal-sucedidos, Andressa adota, agora, uma nova postura, mais reservada, contida e coerente para o atual público alvo: frequentadores de igrejas evangélicas.
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Andressa Urach diz que entende julgamento das pessoas, mas que nunca é tarde para recomeçar
Aos 27 anos, Urach tem um discurso pontual, onde as histórias que viveu são transformadas em exemplo de uma vida torta, com erros, vergonha, drogas e prostituição, mas nada que não pudesse ser transformado com o poder da fé, tema básico de praticamente todas as respostas dadas por ela. Prega a mudança, a doutrina, Deus, salvação, se repetindo e convencendo a si mesma de que foi salva por um poder maior, que vai além da UTI na qual ficou internada entre a vida e a morte durante vários dias.
Sabemos que não podemos apagar nossa história, coisas boas e ruins. Que lembranças boas sobraram dessa fase que está sendo deixada para trás?
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– Se eu pudesse fazer uma história diferente no passado, eu faria, mas não posso. Eu não sinto saudade de nada, pelo contrário, tenho vergonha.
E sequelas? Sabemos que uma grande intervenção precisou ser feita. O que a Andressa Urach vê hoje quando se olha no espelho?
– Olha, se você disser assim: você prefere aquela Andressa com corpo perfeito ou essa cheia de cicatrizes, eu diria essa cheia de cicatrizes. Porque eu entendi o valor da vida. Eu tinha o corpo perfeito, mas eu não tinha amor na minha vida, no meu corpo. Eu era uma pessoa vazia. Uma pessoa sem valores, que buscava algo que nunca encontrei. Eu precisei chegar no fundo do poço para nascer de novo, para dar valor à vida, às coisas simples, como tomar uma água, a caminhar, aprender a dar valor para a família, ao filho. Então, quem é essa Andressa? É uma pessoa que precisou chegar no fundo do poço para poder fazer uma nova história.
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Veja a entrevista completa:
E tanta exposição, compensa? Tem um recado a ser dado, mas, por outro lado, deve ser dilacerante, não? Expor histórias, pessoas, a tua vida…
– Não é fácil. Não é fácil você chegar em um programa de televisão, assumir os seus conflitos, principalmente assumir que foi prostituta, mas eu sei o que eu vi, eu sei de onde eu saí. Eu sei o quanto eu sofri e que a vida não acaba aqui. O que importa é a salvação da minha alma. Quando eu decidi fazer o meu livro, eu ainda tinha medo da morte, porque eu não tinha feito nada de bom. Fazer o livro não foi fácil. Eu sofri muito, porque foram feridas que a vida inteira eu quis encobrir. Até quem assistiu ao reality show do qual eu participei, quando me acusavam de ser garota de programa ou stripper, eu negava, eu ficava agressiva, porque era uma coisa que eu nunca iria contar. Se eu realmente não tivesse quase morrido, eu não teria mudado e continuaria na prostituição. Hoje, ou eu estaria morta, porque eu namorava bandidos, estava envolvida com drogas, com cocaína, com antidepressivos, ou presa, justamente por namorar bandidos. Olha o que seria a minha vida? Então eu precisei ficar em coma, ter três buracos na perna direita, quatro buracos na perna esquerda, pra poder recomeçar. Fazer esse livro é alertar as pessoas, principalmente ajudar as meninas que estão na prostituição, que não conseguem sair, que acham que não vão conseguir refazer a vida. Não é fácil. Vocês pensam que é fácil chegar e dizer: “Eu fui garota de programa”, pensar que muitas pessoas vão me julgar, assim como tem acontecido. Mas sabe o que é mais triste? Antes, quando eu estava me prostituindo, fazendo a minha família passar vergonha, andando nua, de biquíni, fazendo topless, o mundo estava me aplaudindo e, hoje, que eu escolhi a coisa certa, assumir os meus erros, fazer uma nova história, eu sou muito mais julgada por assumir uma fé. Então, infelizmente, os valores estão invertidos. Mas quando eu decidi fazer o livro, eu sabia que isso iria acontecer.
E em relação ao livro. Além de coragem, é preciso muito desprendimento para conseguir se expor e expor tantas pessoas importantes como pai, irmão, família…
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– Eu fiz terapia durante 27 anos e não adiantou. Psicólogo, psiquiatra, antidepressivos… O que me libertou foi a minha fé. Foi a minha libertação dentro da igreja, com a minha conversão. Com essa fé inteligente, racional. Não é uma fé religiosa, sabe? Não é uma fé que me proíbe de fazer as coisas. Não! É uma fé que me diz: “Olha, se você andar assim, você vai ter coisas boas na sua vida”. E é o que está acontecendo comigo. Sabe, a minha vida foi transformada. Eu hoje tenho paz. Eu era uma pessoa que tinha uma agonia, uma angústia, um nó no meu peito. Viciada em cocaína, remédio contra a depressão. Hoje, eu estou livre de tudo isso. Lógico que não é fácil, mas só a paz que eu tenho hoje, dinheiro nenhum compra. Eu tive tudo o que o dinheiro poderia oferecer. Carro importado, cobertura, R$ 60 mil na minha conta, e eu era infeliz. O corpo perfeito e eu era infeliz. Hoje eu tenho muito menos. Um monte de cicatrizes nas minhas pernas, mas eu dei valor à vida. É um recomeço. Alguns pessoas dizem: “Não acredito, é jogada de marketing, é mentira, ela está sendo paga…” Eu entendo essas pessoas. Talvez, se eu estivesse no lugar delas, eu pensaria assim também. Então, só o tempo que vai mostrar, entende? É tudo muito recente, mal fez um ano que aconteceu toda essa mudança. Então, é daqui pra frente. Eu realmente precisei fazer esse livro para Andressa morrer, para nascer uma nova Andressa. Por isso, o morri para viver.
E a comparação com a personagem de Grazi Massafera? Na novela Verdades Secretas, ela recebeu a ajuda direta de evangelizadores, foi o momento da virada. Qual foi o seu momento?
– Fizeram na internet, né? Eu não assisti à novela, mas sei que contou a história de uma mulher que foi salva pela fé. No momento em que eu percebi que eu ia perder as minhas pernas, encontrei a fé na dor, e não no amor. Foi quando eu pensei que, além de morrer e ter a minha alma condenada, eu poderia ficar sem as pernas. Minha perna apodreceu, eu andei em uma cadeira de rodas durante 20 dias, com buracos, inflamação saindo, os remédios não faziam mais efeito. Daí, sabe quando um médico, que te ajuda na recuperação, diz: “Olha, a gente já fez tudo o que podia, agora, se tu acreditas em alguma coisa, vá”. Daí, imagina, quando um médico diz que não tem mais jeito, o que você vai fazer? Vai pedir a ajuda de Deus. E foi a melhor coisa que eu fiz. Aos 27 anos, eu fiz muitas escolhas erradas e uma única certa, que mudou toda a minha vida.
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