Acordou, como se o Sol não houvesse nascido. Lá fora, realmente não havia, mas sentiu-se como se não amanhecesse dentro de si. Há dias que não amanhecem mesmo. Os olhos pesavam tanto quanto os ombros, sucumbindo aos pesos diários. Tanta correria, tanto estresse, que ela mal reconheceu a figura desanimada em frente ao espelho.A água no chuveiro estava fria. Depois ganhou calor e, por fim, quase pelava-lhe o corpo. Maldito chuveiro barato! Correu para a cozinha, vestindo as roupas pelo trajeto. Colocou uma caneca com leite no micro-ondas, tirou três fatias de pão do pacote e colocou-as sobre o prato. Por cima, deitou fatias de queijo molenga demais e, mal apitou o bip, ela percebeu que tinha esquecido de passar manteiga no pão antes de cobri-lo. Café solúvel, daqueles que não nos fazem perder um segundo da manhã. Enquanto engolia os alimentos, conferia as novidades das redes sociais. Não é possível se desconectar – e ela tinha a nítida impressão de que sempre faltava tempo para se atualizar, mesmo que ela tivesse dado uma última espiadinha à noite e que quase nada teria mudado nesse curto espaço de tempo. Ela dormia, seus amigos reais e virtuais dormiam, as redes dormiam – mas vai que ela perdesse alguma coisa!Entrou no carro apressada. Estava sete minutos atrasada, mas ainda era lucro: na manhã seguinte, tinha batido o recorde da semana, com treze minutos de atraso. Pior que, quanto mais tarde, mais trânsito, e os minutos perdidos multiplicavam-se mais rápido que o bolor na parede úmida do seu quarto – que precisava de tinta fresca.No trabalho, correria, pedidos, e-mails, pessoas, telefonemas e a pilha de problemas se acumulando sobre a mesa, um café que chegou quente, mas o último gole estava gelado porque ela esquecera de bebericar a xícara sobre a mesa. Hora do almoço e só então ela percebeu que mal tivera tempo de ir ao banheiro e a bexiga já quase estourava. Enquanto se aliviava no banheiro, imaginou que o céu estivesse azul. Tinha cerração de manhãzinha. Imaginou-se em casa, sentada à varanda, produzindo arte. Tranquila. Sem pressão, sem chefia, sem a pilha de problemas sobre a mesa. Sorriu pensando na satisfação que teria. Os ombros quase se aliviaram do peso. Continuaria trabalhando com o que trabalhava se não precisasse do dinheiro? A vida passava enquanto ela se contentava em passar pela vida.
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Meu pai me ensinou que ninguém vai correr atrás dos meus sonhos por mim, mas que a corrida cansa menos se eu tiver do meu lado gente que me inspire e me apoie. Sempre me instigou a não ser boa — o mundo está cheio de gente boa (ser bom é fazer parte da média). Eu tinha que ser a melhor — não melhor que ninguém, mas a melhor que eu pudesse ser. Mostrou-me que caminhos começam com um primeiro passo, mas é preciso disposição para percorrer toda a jornada, porque só o primeiro passo não é suficiente; que na vida são mais importantes a constância e a perseverança que a velocidade. Ensinou-me a lidar com o dinheiro, mesmo que às vezes eu me descontrole um pouco nesse quesito. Orientou-me a ter fé, mesmo quando tudo parece perdido. Há sempre um arco-íris após a tempestade.
Mais que tudo isso, junto com minha mãe, meu pai me ensinou a amar. Pode ter certeza, pai, que você fez isso da melhor forma que poderia. Amo você, pai. Muitão.
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