A menina com os olhos marejados de raiva me encara de longe. Sentada no banco em frente à sala da direção, ela deveria repensar seus atos. Mas não: ela está, na verdade, armando um plano de vingança, para compensar todas as injustiças que ela acredita que foram cometidas contra ela.
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Como em uma cena de filme, um carro entra numa velocidade considerável no estacionamento da escola, fazendo uma volta tão rápida que quase acredito que duas rodas serão suspensas no ar e, antes mesmo que o veículo pare, alguém abre a porta e começa a descer. É a ânsia pelo resgate. Quem desce é o namorado da menina. Logo atrás dele, entra a mãe — dele, não dela. A menina, cujos olhos inflamavam-se de ódio, agora baixam, tristes e dissimulados, escorrendo lágrimas de vitimismo. O garoto e a mãe querem levá-la embora, mas não são eles os responsáveis legais por ela.
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Você, leitor, deve estar se perguntando por que a garota está ali, sentada em frente ao gabinete da direção. A resposta é mais simples do que você imagina (e surpreende por parecer absurda): a menina foi contrariada. Em reunião, os professores decidiram que, para o bem dela, dos estudos, do comportamento da sala, ela deveria trocar de turma. Ela não concorda e, por isso, fez um escândalo, armou um plano para tentar reverter a decisão tomada por seus mestres (ou, se não conseguisse, que pelo menos eles se sentissem culpados) e, por fim, socou a parede com toda a força que conseguiu. Os dedos estão vermelhos, chuto que o dedo médio possa ter sofrido dano maior. Sabe o pior de tudo? Esse não é um caso isolado.
Todos os dias vejo adolescentes fazerem tumulto por terem sido contrariados. São reflexo daquilo que vivem em casa: pais que lhes ensinam, desde muito cedo, que são especiais, que as suas vontades devem ser atendidas, que nada pode ser negado a eles. Desde pequenos, escolhem onde os pais se sentarão no restaurante, qual deles dirigirá o carro, que programa assistirão na TV. Nunca ouviram um não.
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O problema é que a escola não é a extensão da casa, os professores não são os pais. Não há como dizer sim a todos os alunos — alguém vai ser contrariado. Por não saberem lidar com frustrações, alunos estão socando paredes, fazendo chantagem emocional e envenenando água da garrafa dos professores. O que podemos esperar do futuro?