Você percebe que alguém está doente pelos sintomas, certo? Aquele que antes sorria agora mantém os lábios murchos e curvados para baixo. A testa brilha com o calor da febre, que anuncia sua chegada. As vertigens começam. Há quem tenha calafrios, tenha dores ¿fáceis¿ ou dores insuportáveis. A vontade de sorrir e brincar diminui à medida que a doença avança.

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Assim tenho visto a escola ultimamente. Os sintomas são claros. Os alunos estão desmotivados. Acumulam quilos e quilos de tarefas atrasadas e não dedicam tempo necessário ao estudo. Entregar trabalhos na data correta é quase impossível – e acabam deixando para depois, e depois de depois, e depois de depois de depois. Algumas vezes, o depois nunca chega, porque está ancorado na responsabilidade – aquela que o aluno está deixando de ter.

Os professores estão esgotados. Sentem-se cobrados, sugados. Dói-lhes a alma pensar que se tornar professor foi uma escolha, na maioria das vezes, proposital. As crises de nervos são cada vez mais frequentes; os conflitos, mais agudos; as dores e febres, mais evidentes.

A coordenação cobra os professores porque é cobrada por seus superiores, que, por sua vez, são cobrados por seus superiores. No topo dessa pirâmide estão homens engravatados, sentados em seus tronos, com o poder da cura, mas fechando os olhos para as mazelas que afligem as camadas inferiores.

A sociedade costuma dizer que é na escola que os problemas começam a se resolver, mas, na prática, não é isso que vejo. Apostando nessa panaceia educacional, todos transferem à pobre escola doente a árdua responsabilidade que não lhe compete. A escola, mesmo doente, precisa ser psicóloga, médica, pai, mãe, especialista em legislação…

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No fim disso tudo, se der tempo, se houver um pequeno respiro, a escola tenta ensinar conteúdo formal, científico e histórico, acumulado pelos ¿séculos do séculos, amém¿.

Precisamos de mudança. Quando alguém está doente, é preciso identificar o que causa a doença e neutralizar a ação. Também é necessário eliminar os sintomas, para que, de dentro para fora, o organismo se cure. É preciso uma pausa, uns dias de cama, amor e canja de galinha. O problema é que, na escola, o doente está cuidando de outros doentes.