Acordei no domingo passado com um susto. O celular me mostrava uma hora e o painel do forno de micro-ondas, outra: o horário de verão tinha começado e a desavisada aqui não tinha a menor ideia disso. Eu já tinha percebido que o dia estava amanhecendo mais cedo, que às cinco da manhã uma luz branca já entrava pelas frestas do blecaute do quarto, só não tinha me atentado que já era tempo de mexer no relógio.

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Pela internet, uma chamada para a notícia deste jornal diz: “Você piscou e já é Natal”. Como assim? Eu ainda nem me livrei dos vícios que, no Ano-novo, prometi que seriam eliminados! Neste ano, não escrevi nenhum dos livros cujos roteiros se acumulam em minha pasta de ideias a serem tiradas da gaveta, não terminei de escrever nenhum dos romances que comecei. Não tenho encontrado meus amigos (a não ser os que trabalham comigo), tenho saído pouco de casa nos fins de semana, tenho me privado de festas e eventos sociais. Ainda assim, o ano está se esvaindo mais rápido do que eu gostaria de admitir.

Dois alunos me procuraram nesta semana querendo trocar de sala. Fomos conferir o calendário e – sim! – o jornal está certo: estamos a um passo das férias. Faltam exatamente oito semanas para o fim do ano letivo e, dessas, apenas três delas serão de aula normal todos os dias (muitos feriados, duas aulas de campo, três eventos escolares e “adeus, escola; olá, casa nas férias”.

A cada dia me sinto mais consumida pelo trabalho. A cada dia, sinto minha vida evaporando de mim pelos poros da pele, volátil e perene, indo sabe-se lá para onde. O tempo escoa pelo ralo da rotina que tudo engole, sem qualquer perspectiva de ser recuperado. Quando foi que eu parei de viver o momento presente? O que aconteceu com 2017 que passou tão rápido e eu nem percebi? A burocracia me ocupa e me desvia do que realmente importa – mas foi isso que eu desejei para mim?

Preciso de um freio. Não para mim, para o tempo. Preciso aprender a dizer não, a reconhecer até onde vão os limites para que eu não perca a minha essência. Quero que a educação pública seja melhor e faço minha parte na busca desse ideal, mas não posso esquecer que isso não pode custar a minha saúde, a minha sanidade. De nada adianta correr atrás do prejuízo da máquina, tentando puxar nas costas a locomotiva que leva ao sucesso educacional, se há vagões e vagões pesados me puxando para trás.

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