Ainda não amanheceu direito, e aqui estou eu, tentando parir uma crônica pelas pontas dos dedos, enquanto um aglomero deve estar se formando no Centro da cidade. Sei que este texto será publicado sábado e domingo, então quero deixar claro que hoje é sexta-feira, véspera do feriado do Dia do Trabalhador — data mais que oportuna para uma manifestação contra a reforma da Previdência. Diziam as notícias pela internet que às seis da manhã iniciaria o movimento, na praça da Bandeira, e que alguns atos deveriam acontecer durante o dia. Diziam também que os sindicatos estavam organizando seus trabalhadores para reivindicarem outras pautas de luta.
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A cada vez que me deparo com essas manifestações populares — sejam elas pelos motivos que forem —, o fogo revolucionário cuja chama quase se apagou dentro de mim ganha nova centelha. Mas, igualmente, brilham em minha memória todos os motivos que me fizeram controlar este fogo para que eu não incendiasse com meus ideais. Se hoje eu estivesse participando da greve geral, tenho certeza: eu iria para lutar contra a reforma da Previdência e levaria junto com o pacote uma série de bandeiras de luta que não foram divulgadas pelos sindicatos — algumas destas, das quais eu provavelmente discorde. Isso sempre aconteceu.
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Ainda neste ano, numa outra manifestação, alguns colegas professores estiveram mobilizados contra a dita reforma, mas as fotos na internet pediam uma assembleia popular constituinte. À época, eu brinquei que se o povo não conseguia escolher o queijo do seu lanche no fast food, como poderia escolher a Constituição, mas o que mais me preocupou foi perceber que muitas das pessoas que estavam na manifestação sequer sabiam do que se tratava a faixa que seguravam. Foram pela Previdência e levaram, de brinde, uma alteração da Constituição (e outras coisinhas mais, que não vou listar aqui por não querer estender ainda mais a polêmica).
Daqui dez minutos devo sair para trabalhar, mas eu não queria ir. A escola estará um pandemônio hoje. Mesmo com a confirmação de que a maioria dos professores não irá, não nos é permitido liberar os alunos. Fossem meus filhos, eu nem os mandaria para a aula, mas a escola se tornou depósito de adolescentes, logo, sei que eles estarão por lá. Se eu sobreviver, na semana que vem estarei aqui, de novo, provavelmente com a reforma da Previdência aprovada pelo Senado.
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