Hoje foi difícil acordar. Há dias que o são. O corpo padecia com as mazelas da vida corrida, os olhos inchados não desejavam abrir-se às horas que escorriam em grânulos pelo vidro do tempo. Hoje, a vida pediu pausa.
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Já se vão seis dias desde que eu comecei a sentir no corpo os efeitos do estresse. Há quem sofra com a síndrome da música do “Fantástico”, mas eu, embora fosse domingo, não poderia sofrer deste mesmo mal, já que não há como ouvir a famigerada trilha sem ter um televisor em casa. Meu mal era outro.
Na segunda-feira, eu fui ao trabalho. As dores, que deveriam se distrair na presença do profissionalismo que qualquer profissão exige, não conseguiram se distrair. Pelo contrário, elas se contraíram dentro de mim, agarraram-se às expectativas de dias cheios de trabalho frustrado, onde se dá o sangue para manter um mínimo de qualidade na educação pública, mas pouco reconhecimento se recebe.
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Na terça-feira, com a situação mais agravada, eu deveria ter procurado um médico. Mas a gerência precisava conversar, exigia uma reunião e não tinha declarado a pauta. A ansiedade de uma criança ao ouvir dos pais que “a gente precisa conversar” deu as mãos aos sintomas alérgicos que, naquele momento, se espalhavam pelo corpo através das vias sanguíneas. O problema foi que, com aviso ou não, a gerência não pôde comparecer na terça e a fatídica reunião foi transferida para quarta, dia este que eu, mais uma vez, cancelei minha visita médica.
Na quinta-feira, minha presença na escola era imprescindível. Os responsáveis pelo programa recém-implantado no ensino médio viriam de fora do Estado e precisavam que a coordenadora estivesse lá, para dar-lhe as informações. Meu corpo estava lá, mas minha cabeça viajava por espaços letárgicos em céus de analgésicos e descongestionantes. Minha voz queria expor todos os avanços conquistados com o programa, mas minha garganta se sentia esmagada pelo peso dos dias trabalhados quando, na verdade, deveriam ter sido atestados e o corpo, restaurado.
Sexta-feira, enfim, dei-me o direito de permitir que meu corpo fizesse aquilo que sempre soube fazer: começar o processo de cura. Mas começar a cura de algo que ainda está no início é muito mais fácil que começar com a doença já avançada, com dias de atraso, com ínguas e inchaços espalhados pelos membros…
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Hoje foi difícil acordar. Mas, espero eu, que amanhã seja um novo dia.