A gente aprende com a vida. Filmes e livros nos dão uma noção sobre como agir, o que fazer (ou não) e como as pessoas provavelmente vão reagir conosco. Então, a gente se controla, porque há um manual de instrução para a vida (e para os relacionamentos).

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Nunca se jogue de cabeça, eles dizem. Comece devagar, vá colocando um pé após o outro e entre de mansinho. Assim, aos pouquinhos, você não corre o risco de ser engolido por um tsunami de emoções, de ser arrastado para o fundo do relacionamento.

O filósofo no YouTube me diz que “o homem ama aquilo que não tem”. Deve ser por isso que as pessoas têm medo de se declarar: e se eu me expuser e for rejeitado? Será que vale o risco? Se eu disser o que eu sinto, estarei nas mãos do outro – ele terá o poder do conhecimento, e eu terei de lidar apenas com aquilo que ele me oferecer (o que, muitas vezes, é nada, ou quase nada). Daí vem também aquela velha máxima, seguida pelas mulheres, de ser difícil, porque o valor é dado pela dificuldade.

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E tudo acaba sendo um jogo, a vida é uma questão de perder ou ganhar. A gente não manda um Whats, porque a última mensagem já foi nossa – agora é a vez do outro chamar, porque a gente não quer parecer desesperada. A gente esconde os sentimentos, porque ser rejeitado sem ter dito nada nos parece uma opção melhor do que ser rejeitado com o outro tendo certeza do que sentimos. A gente vai deixando os problemas guardados no fundo da alma, porque tocar no assunto machuca, porque é preciso esfolar a roupa nas pedras do rio, ao sol, para tirar toda a sujeira, porque o processo de purificação é dolorido.

Mas nesse jogo insano, a gente acaba se perdendo. Perdemos nossa essência, deixamos de ser quem somos de verdade. No fim da vida, o que conta para valer? Deixar de viver por medo de sofrer me soa como sobrevida. Arrisque-se. Jogue-se de cabeça em águas profundas, sem medo do que lhe espera lá embaixo. Envolva-se, sinta, chore se preciso for, mas não deixe que meia dúzia de psicologismos enlatados ditem quem você pode ser. Faça o que tiver vontade, o que seu sentimento mandar: escreva mensagens de madrugada, mande áudio pelo WhatsApp, chute o pau da barraca para ver a coisa desmoronar – e junte tudo de novo se achar que vale a pena. Vai por mim: no fim, a gente se arrepende mais por ter se privado do que por ter ousado.