Supermercado no segundo dia do ano é lugar de gente louca. Você entra com uma lista nas mãos, empurrando um carrinho, e sai pelos corredores como se estivesse numa caça ao tesouro. É necessário despistar os inimigos – nesse caso, os demais condutores de carrinhos ou aqueles que, a exemplo da Chapeuzinho Vermelho, empunham cestas nos braços e mantêm os olhos nas prateleiras. Igualmente, é preciso contornar obstáculos – nos mercados atuais, eles equivalem aos produtos empilhados sobre pallets no meio de corredores já apertados, que jazem uns sobre os outros e estão apenas esperando o momento que você vai se aproximar e passar por eles – então eles se jogam de cima da montanha rumo ao chão, enquanto os inimigos, digo, os demais consumidores lançam em sua direção aquele olhar de “olha lá aquele desajeitado, derrubando os produtos no chão”.

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Depois de enfrentar mares de pessoas desesperadas, enchendo os carrinhos como se não houvesse mercado amanhã (como não houve no dia anterior), depois de enfrentar a névoa gélida das seções refrigeradas (se bem que, nesse calor infernal de verão joinvilense, esse parece um oásis no meio dessa cidade árida), depois de conquistar o elixir do produto que você desejou durante o feriado (mas não encontrou um único comerciante capaz de satisfazer o seu desejo), você se dirige à etapa final da jornada: a fila do caixa.

É ali, na fila, que você pode vislumbrar o retorno glorioso ao início da jornada, quando o herói volta em posse do elixir para provar o seu valor. E ali mesmo, na fila, você se depara com uma infinidade de produtos mágicos – esses que você nem sabia que existiam, mas que, de uma hora para outra, sentiu uma necessidade incontrolável de levar para casa.

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Um desses produtos é um minibolinho – pelo tamanho, não é redundância. Curiosa, levo a mão à gôndola e seguro a embalagem: dentro dela, o que era uma vez um minibolinho agora é um aglomerado de migalhas amontoadas dentro do pacote. Balanço a cabeça e suspiro, imaginando quem foi o ogro desalmado capaz de pegar um minibolinho tão delicado de dentro da caixa e, como diria minha avó, macetá-lo com os dedos até que não restasse mais nada do formato original. Ao longe, um menino tira uma beterraba da cesta de hortifrúti e arremessa contra o irmãozinho… Lugar de gente louca, tenho certeza.