Escritora fala sobre pessoas que, por não saberem lidar com as críticas, ficam apontando as falhas alheias

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Eu queria muito não fazer mais uma crônica apontando as obviedades dos dias atuais, mas não consigo me controlar. Toda vez que me deparo com as fantásticas condições do ser humano, eu me admiro e fico indignada na mesma proporção.

Vivemos um momento em que os adolescentes são ensinados a questionar. Tudo. Todos. Sempre. Não aceitam nada sem perguntar alguma coisa. Mas ninguém os ensina a argumentar de verdade. As perguntas que eles fazem são, na maioria das vezes, rasas e superficiais e mais servem como uma forma de fugir da responsabilidade do que como exercício de criticidade. O problema é que, quando esses adolescentes crescem e se tornam adultos, eles continuam a questionar tudo e todos, ainda sem muita profundidade.

Os adultos que conheço – com os quais eu convivo – não sabem receber críticas. Não estamos mais acostumados a uma conversa franca, mesmo quando ela serve para nosso crescimento. Sou uma pessoa muito sincera e, quando preciso tecer uma crítica a algo que me desagrada (ou que, no trabalho, precisa ser feito de outra maneira), a resposta é imediata e recorrente: “E aquele outro problema ali?” Ninguém está preocupado em olhar para si, para suas fraquezas, para eliminá-las, ou para seus erros, para corrigi-los. O modo mais frequente (e fácil) é apontar o dedo em outra direção e procurar um “culpado” de outra coisa qualquer que não seja aquela que lhe diga respeito.

Qual é o grande problema que esse desvio de foco traz consigo? Estamos nos tornando especialistas em localizar erros, fraquezas e deslizes que não nos pertencem – e, por não nos pertencerem, não somos capazes de fazer nada para mudar tais situações. O caso é que aquilo que podemos mudar, não o fazemos, porque queremos tirar de nós o foco da crítica que nos é dirigida.

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Não há problema em questionar. Não é preciso aceitar tudo como verdade. Mas quando nos recusamos a olhar no espelho, a olhar para dentro, corremos o risco de repetir as mesmas coisas que nos impedem de evoluir e olhar o mundo por outra ótica. Que tal mudar a música? Se vivêssemos nos anos de 1990, eu diria para virar o disco, mudar de estação. Em vez de manter um olhar crítico para fora, por que não olhamos, com sinceridade, para dentro e procuramos lançar luz naquilo que está escuro?