Vivemos a era das selfies: 90% dos brasileiros tiram fotos de si mesmos, e são essas as fotos mais curtidas. É um mundo de egolatria.
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Essa busca por aceitação social nas redes pode tornar-se compulsiva. É uma disputa invisível entre quem tem mais likes, mais compartilhamentos, mais fama – mesmo que vazia e momentânea. Esses dias, conversando com um aluno, mostrei a ele uma foto no celular e fiz um comentário totalmente inocente: “Viu quantos likes?” Ele nem pestanejou: “Pois é. E nem está pelada.”
Pior do que seu comentário é constatar que ele tem razão: todos os dias, em busca dessa popularidade fácil que as redes sociais podem trazer, pessoas fazem o inimaginável para conseguir espaço: expõem-se nudezes impróprias de meninas adolescentes, estapeiam-se os meninos a ponto de terem a pele marcada pelos dedos alheios… Vi um garoto que chegou ao cúmulo de encher a cueca com cubos de gelo, enquanto eu me perguntava: “Por que, meu pai? Por quê?”
Por onde anda essa tal de empatia? Essa coisinha linda e delicada que tem sido deixada de lado, esquecida no canto de um quarto escuro, como se estivesse de castigo por ter feito algo errado. Olhamos demais para nossa imagem, mas estamos nos esquecendo de olhar para o outro.
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Nossos dedos ágeis de manusear dispositivos eletrônicos são rápidos demais em apontar os defeitos do outro. “Vagabunda!”; “Veadinho!”; “Marginal!” (somem-se aqui outras ofensas que não caberiam numa selfie). Se olhássemos de verdade para o outro, talvez pudéssemos compreender que motivos os levaram às decisões que tomaram. Você conhece as dores do outro? Já trilhou o mesmo caminho, com os mesmos sapatos? É muito fácil condenar à fogueira uma bruxa, desde que ela não seja minha amiga, minha mãe ou, quem sabe, eu mesma.
Uma coisa que tenho aprendido com meus personagens – sim, porque personagens me ensinam muito – é que tudo o que alguém faz tem uma motivação. Suas dores, cicatrizes, máculas e traumas, aliados aos seus valores e crenças, são o que transformam você na pessoa que você é. E você não tem como fugir da sua história.
Olhe para si. Você não é a perfeição da sua selfie, com todos aqueles filtros que escondem a verdade. Você não pode ser medido pelo número de curtidas ou de seguidores. Você é o que acredita ser. Vamos levantar uma bandeira: por um mundo com menos selfie e mais espelho em casa, por favor!
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