Quando pequena, eu tinha certeza de duas coisas sobre o meu futuro: primeiro, que eu seria professora — era mais forte que eu, eu juro. Meu pai até tentou, uma época, me convencer a pensar em outra profissão (mas se vocação é mesmo um chamado, o meu gritava meu nome em alto e bom tom). Depois, que eu seria rica no dia que pudesse entrar num lugar e comprar algo que eu quisesse, sem olhar o preço na etiqueta. Sabe como é criança: com os bolsos cheios de moedinhas, contadinhas, perguntando na mercearia o preço de cada um dos produtos (já que não havia lei que obrigasse o comerciante a colocar etiqueta de preço — se havia, ninguém fiscalizava, então, era como se não houvesse). Na minha cabeça, eu fazia as contas e analisava se era mais vantajoso comprar o salgadinho maior ou o mais gostoso, se levava um chocolate e um pacote de Pipoteca, ou se levava dois chocolates para comer um deles sozinha e dividir o outro com os irmãos.
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Claro que eu não consigo comprar tudo o que eu quero (muito embora desde que eu tenha descartado definitivamente o televisor aqui em casa — e lá se vão uns bons seis ou sete anos —, meus desejos de consumo diminuíram drasticamente). Claro que, ao fazer compras de coisas mais caras, eu pesquiso muito e, como uma criança, pergunto preços e faço contas mentais, elaborando estratégias para poder escolher melhor. Mas quando vou a uma mercearia, não preciso mais ficar perguntando o preço de cada coisinha — o que, nos meus padrões infantis, me torna uma pessoa rica.
Não estou aqui para discurso demagógico. Não vou dizer que rico é quem tem saúde, bons amigos e blá-blá-blá. O que eu quero dizer é que, em nossos sonhos infantis, a medida do sucesso — o financeiro, ao menos — é contada numa régua bem pequena. É ingenuidade? Sim. Mas a gente cresce e começa a acreditar que, para ser bem-sucedido, precisa de uma montoeira de coisas que, no fundo, no fundo, não precisa de verdade.Há quem sonhava em encher um carrinho de mercado com Danoninhos e leite condensado. Há quem quisesse uma casa com escada, dinheiro para comprar Barbies que não fossem do Paraguai. Há quem quisesse morar numa casa com tijolos, ou ter dinheiro para estocar comida em casa e poder ganhar um presentinho no Natal. Olhe para a criança que você foi, lembre-se dos seus sonhos, ingênuos e verdadeiros. Quanto você precisa, mesmo, para ser feliz?
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