Quando eu era pequena, costumava ficar à janela, observando as crianças que passavam, mochilas às costas, caminhando rua abaixo. Perguntava à minha mãe aonde elas iam. “À escola”, ela respondia. Eu não podia esperar pela minha vez.

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Aos três, entrei no jardim. Voltava da escola, colocava as bonecas uma ao lado da outra e, munida de um giz e um quadrinho-negro, repetia aos meus alunos tudo aquilo que a professora tinha ensinado no jardim de infância. “Muito cedo para ir à escola”, eles diziam. “Logo vai se enjoar e daí não haverá Cristo que a faça estudar.”

Lá se vão trinta e cinco anos que eu estou na escola. Trinta e cinco anos que eu pisei, pela primeira vez, meus sapatinhos no portão da escola com a qual eu sonhava quando via as crianças passando na calçada e de onde nunca mais saí. Aos 15, comecei a trabalhar como professora auxiliar num jardim; aos 20, num ato de coragem (ou insensatez), decidi abrir uma escola de idiomas; aos 25, passei em um concurso público para escola estadual e passei a me dividir entre a rede pública e a privada e, aos 30, decidi que minha carreira seria integralmente no Estado — uma decisão difícil, mas muito acertada.

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Não me importo com a jornada puxada. Embora não goste de acordar antes das seis da manhã, chego à escola cantando e aprendo muito mais com os alunos do que aprenderia com a televisão (se a tivesse em casa). O caminho não foi fácil, muitas pedras precisaram ser contornadas, a jornada continua.

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Quando eu decidi que estudaria magistério no ensino médio, tive de ouvir uma lista de coisas negativas a respeito do ofício de professor. Ao decidir a faculdade, a velha lista foi recuperada e revisada, item por item, com cuidado. É difícil, crianças e jovens estão cada vez mais mal-educados e mimados, o professor não pode fazer nada e eles podem fazer tudo o que quiserem, com a certeza da impunidade. Ninguém me disse que seria fácil.

Por isso, você, pai, mãe, responsável, pense: hoje, em algum lugar da cidade, há alguém pensando no seu filho; há alguém assistindo a um filme e pensando que poderia aproveitá-lo em sala de aula; há alguém planejando como motivar os pequenos a estudar; há alguém que decidiu, por amor, por vocação ou pelo motivo que for, que iria se dedicar à educação deste país. Ninguém é um “mero professor”: somos Professores, com P maiúsculo, por favor.