Efêmera. Assim é a vida. Num instante, somos crianças, correndo livres pelo parquinho perto de casa. Piscamos os olhos e nos vemos adolescentes, numa roda de amigos, bebericando vinho com Coca, numa afronta aos limites do que é proibido. Mais um piscar de olhos e aqui estou eu, às vésperas de completar 38 anos (mesmo que, dentro de mim, eu não me sinta com todos esses anos).

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Diz o ditado popular que a vida começa aos 40. Eu me pergunto quanto disso é verdade. Nesses quase 38, já acumulei tantas histórias para contar. Conto na pele e na alma as cicatrizes, as marcas, os aprendizados. Conto no brilho dos olhos os sonhos ainda a se realizarem, as mil e uma ideias que poderiam construir as mil e uma noites. Não sou Sherazade, mas divido com ela o árduo ofício de tentar me manter viva por meio das histórias que me brotam, todos os dias, na ponta dos dedos.

Sei que os tempos não são de padronização – e agradeço aos céus por isso –, mas não há forma da minha idade que comporte a bagunça que eu sou. Meus cabelos, ora roxos, ora azuis, gritam ao mundo que eu não aceito amadurecer. Casei-me de branco, na santa mãe igreja, como manda a tradição, mas abandonei as instituições logo em seguida. Mais que um marido, tenho um companheiro de aventuras, que divide comigo a cama e a vida. Não tenho filhos, apenas um gato que consegue ser mais obediente que muitas crianças que eu conheço. Não construí patrimônio, não acumulei bens materiais. Ainda sou a mesma garota que às vésperas do aniversário de 15 anos comprou dois tubos de água oxigenada e um saquinho de sal amoníaco e se pôs a fazer arte nos próprios cabelos.

Uma pergunta que sempre me faço é se a criança que eu fui teria orgulho da adulta (oh, meu pai, como eu temo essa palavra!) que eu me tornei. A louça para lavar me encara da pia, à espera da responsabilidade doméstica que só me visita de vez em quando. As peças de roupa que se empilham no cesto debocham da expectativa da louça – elas sabem que, neste momento, ninguém verá água nem espuma (amanhã, quem sabe). Sinceramente, a criança que um dia eu fui (e que mora no fundo da minha alma) vibra extasiada: brincar de criar mundos e personagens é muito mais produtivo que passar horas à beira da pia ou do tanque.

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Se a vida começa aos 40, ainda tenho dois anos para continuar ensaiando – e a estreia promete ser espetacular.