Quando eu era adolescente, a moda entre os apaixonados que decidiam assumir um namoro era a aliança de compromisso: aquela argola prateada e brilhosa que, mesmo pequenina, anunciava aos quatro ventos e a todos os olhos que o cupido tinha acertado sua flecha no alvo e aquela pessoa ali estava comprometida com o amor que sentia. Claro que nem todos os adolescentes adotavam a tal aliança, nem todos aceitavam de bom coração. Lembro-me de alguns meninos criando apelidos para o tal anel: era um tal de “algema” para cá, “corda de forca” para lá – e o meu favorito, “bambolê de otário”, era usado para pegar no pé daquele amigo que nunca antes tinha se amarrado em ninguém. Havia um certo romantismo envolvendo o anel de compromisso que marcou a minha geração, apesar da torcida contra. Mas os tempos de hoje são outros.

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A onda do momento é o contrato de namoro. Minha primeira associação foi com o contrato de casamento, aquele que os noivos vão ao cartório, levando testemunhas, e atestam ao mundo que se amam, que querem permanecer juntos, que o coração de um pertence ao outro e vice-versa. Aquele contrato que, apesar da formalidade que o documento exige, ainda é uma declaração de amor. Doce ilusão a minha.

Há poucos dias, me deparei com um amigo reclamando (nas redes sociais, o muro das lamentações repaginado) sobre os namoros com contrato. Dizia ele que aquilo era um absurdo, que as relações humanas não podem estar regradas por papéis e normas lavradas e assinadas no tabelionato, que deveríamos nos preocupar mais com conhecer o outro antes de assumir um namoro do que em elaborarmos regras e cláusulas para reger um relacionamento amoroso. Pesquisando, descobri que o tal contrato, de romântico nada tem: é um documento feito para proteger os patrimônios construídos de ambos os lados – antes e durante o namoro. Ou seja, o contrato de namoro é um documento que se assina pensando no fim do relacionamento.

Talvez eu esteja ficando velha. Talvez, por não ter patrimônio suficiente, eu esteja diminuindo a importância do tal contrato. Mas começar um relacionamento já prevendo o que pode acontecer quando ele terminar é acreditar em seu fracasso. É como aquela noiva que, arrumando o véu de frente para o espelho do salão de beleza, diz que “se não der certo, a gente se separa”. Tenho medo dessas modas que transformam relações humanas em produtos descartáveis.

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