Era uma sexta-feira fria de sol, agosto de 1979 (pelo menos, eu gosto de imaginar que era um dia perfeito). Foi quando eu nasci – e meu pai nasceu comigo. Porque um pai nasce no mesmo dia em que nasce seu primeiro filho (mãe, não – mãe já é mãe desde antes de descobrir o motivo dos enjoos: mãe sente). E essa sexta-feira antecedia o Dia dos Pais. Na época, deve ter parecido ótimo: dar a um pai uma filha de presente de Dia dos Pais. Chega a ser poético (ou piegas).

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Mal sabia eu que fazer aniversário perto do Dia dos Pais trazia consigo um grande problema. Meu maior trauma de aniversário é o de fazer uma festinha para crianças, num domingo à tarde – como costumam ser as festas de criança – e não aparecer quase ninguém. A justificativa era sempre a mesma: era Dia dos Pais, poxa, não tinha como ir. Mas meu pequeno coração não sentia que era Dia dos Pais, sentia apenas que era dia da minha festa de aniversário, aquele momento em que todo mundo cantaria parabéns para mim, eu encheria a boca de ar e assopraria as velinhas sob todos os olhares (como adoram os leoninos que estreiam a vida em agosto). Foram anos sendo deixada de lado no dia que deveria chamar de meu.

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Já na adolescência, melhorou um pouco: os amigos nessa fase são mais autônomos, mais fiéis e enchem a paciência dos pais para ir às festas de garagem. Então, o medinho de ser desprezada começou a diminuir, mas acho que nunca vai morrer. Não tem como competir com o Dia dos Pais – a não ser, é claro, que o pai da pessoa não mereça o título de pai. Nesse caso, ele vai desprezar o progenitor e qualquer desculpa é válida, nem que seja a festa de aniversário daquela menina dos cabelos esquisitos com quem ele trocou duas ou três palavras na vida toda.

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Eis que completo 37 invernos. E, na véspera do Dia dos Pais, agendei o lançamento do meu primeiro livro. Tudo planejado, e o medinho voltou a dar as caras: e se ninguém aparecer? Amanhã é Dia dos Pais. Se meu livro pelo menos falasse de pais e filhos, como o do Piangers… Não sei profetizar o que acontece(u), já que esta crônica é escrita antes. Mas se as pessoas trocarem meu evento para estarem com seus pais, estou tranquila: pai de verdade (como o meu) vale mais que qualquer evento, mais que qualquer festa de aniversário. Pai de verdade vale muito. Obrigada, pai, por ser de verdade.