Trânsito louco de quem espera o fim de semana, carros molengando pelo caminho, atrasando minhas esperanças de entrar na escola no exato momento em que bater o sinal. Estressados misturam-se aos despreocupados. Há quem esteja uma pilha de estresse, há quem esteja com um pé nas férias de inverno que não tardam a chegar.
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No trânsito, eu nunca estou sozinha, mesmo quando o assento do carona está vazio. A moça da rádio me faz companhia, todas as manhãs, me contando pequenos retalhos da sua vida, que eu ouso costurar sozinha e imaginar as lacunas que ela não conta. Sei que, como eu, muitos outros a têm como companheira. Somos todos, nesse momento, uma grande roda de conversa, mesmo que estejamos, cada um de nós, em um lugar diferente.
Em minha mente, traço infinitas metas para o dia de hoje, cujas horas serão poucas para a infinidade de tarefas que eu preciso desenvolver. São documentos a refazer, planilhas a preencher, salas de aula para visitar e conversas seriíssimas a ter com alunos. Todas elas necessárias e urgentes.
Ouvintes pedem músicas, mandam recados, desejam que o fim de semana seja o paraíso que os dias de trabalho intenso não são, e eu me pego pensando: que vida é essa em que nós ansiamos pela folga, quando deveríamos agradecer pelo trabalho? Trabalhe com o que gosta, e não terá que trabalhar um dia sequer, dizem os vídeos motivacionais. Mas e quando os problemas do trabalho se sobrepõem ao gosto genuíno?
Uma pausa na programação e a radialista pede a atenção de uma moça específica, cujo nome eu não me recordo, porque tinha a cabeça em nuvens. De repente, uma voz masculina e outra infantil desejam-lhe feliz aniversário, dizem o quanto essa moça é especial e em quanto a vida de quem fala é abençoada pela presença da aniversariante. Terminam a mensagem com um eu te amo, daqueles que a gente sente que é verdadeiro.
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Uma demonstração de amor no meio de tanta dureza, de tanto concreto e asfalto, de tantos carros parados e buzinas enlouquecedoras, de problemas reais e imaginários — foi só o que eu precisava para que os olhos brilhassem, úmidos. Claro que as lágrimas não caíram — que tipo de pessoa eu seria se chorasse, sozinha, dentro do carro, enquanto Bruno Mars cantava seu amor em notas de piano? Só fiquei pensando que, às vezes, tudo o que a gente precisa para consertar um dia ruim é uma pequena dose de amor.