Desde que comecei a estudar roteiros, meu marido e eu temos um acordo na hora de assistir a filmes: a regra dos dez minutos. Um filme tem exatamente este tempo – dez minutos – para despertar em nós a atenção e a curiosidade suficientes para que continuemos a assisti-lo. Se ele não conseguir fazer isso, nós trocamos de filme.

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Segundo o “Manual do Roteiro”, nos primeiros dez minutos de filme, o espectador já deve identificar o protagonista, a situação em que ele vive, sua característica mais marcante e o drama da sua vida. Há filmes que fogem a essa regra? Muitos. Para os filmes com recomendação dos amigos, ou que possuem um elenco de mais peso – leiam-se aqui “atores e atrizes que amamos” – o prazo aumenta para até meia hora.

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Curioso pensar que eu não consigo aplicar a mesma regra aos livros. Jura Arruda me disse que a vida é muito curta para perdermos tempo com histórias ruins. Por mais que eu concorde com ele, toda vez que tento abandonar um livro, me pego pensando nas inúmeras horas que o escritor perdeu elaborando uma escaleta para sua história, montando fichas de personagens, criando todo o cenário, a trama, os dramas, o passado dos personagens, os pontos de virada… E de tanto pensar nessas questões todas que englobam a escrita de um livro, acabo dando um pouco mais de chance: vai que a coisa melhora na página seguinte ou na outra. O caso é que, na maioria das vezes, eu me frustro: há histórias que não melhoram e me obrigam a abandoná-las. Queria eu abandonar, também, a culpa que, mesmo assim, acabo por sentir ao deixar o livro de lado sem desvelar-lhe o fim.

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Tempo é uma coisa muito preciosa. A maioria das pessoas que eu conheço gostaria de dispor de mais horas no seu dia. E nem sempre são horas a mais para o lazer, não. Eu, por exemplo, até queria ter mais horas para poder ler a pilha de histórias que se acumula na minha estante ou nas bibliotecas virtuais do Kindle ou do Wattpad. Mas também queria mais horas para poder trabalhar mais em meus livros, para escrever por horas a fio além das mais de oito horas diárias que me seguram na escola onde eu trabalho em dias úteis (e, por vezes, em fins de semana e feriados).

Curioso pensar que, se a mesma regra dos dez minutos fosse aplicada à vida cotidiana, algumas pessoas não valeriam nem mesmo esses dez minutos…