Escrever é um ato muito solitário. Muito mesmo. É como estar trancafiada comigo mesma, dizendo coisas que talvez nem eu mesma queira ouvir. É como escrever uma carta sem ter certeza de que, algum dia, será lida. Ainda assim, não posso conter as letras que me correm nas veias.

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Dentro de mim, moram personagens dos mais variados tipos, com as mais diferentes personalidades. Todos eles alimentam alguma dor antiga, daquelas já entranhadas e escondidas, esperando uma chance de serem expurgadas. Todos os dias, eles revivem sua dor, revivem sua miséria e imploram por uma chance de redenção. São como os personagens de Pirandello, à procura de um autor.

Toda vez que um deles me incomoda demais, que um deles toma o palco da minha alma num monólogo sem fim, eu sei que é este que precisa ganhar vida. É quando eu me sento diante dele, escuto suas dores, enxugo suas lágrimas e estendo-lhe a mão. Choro com ele, se preciso for, para que, no gran finale, possamos, juntos, sorrir de emoção.

A cada nova história que meus dedos sangram nessas desgastadas teclas, um personagem está em terapia. Ele divide suas experiências, boas e ruins, com o leitor do outro lado da tela ou do papel. Não espera compaixão, não espera agradar. Empatia, talvez, mas nem isso ele espera. No fundo, cada história que se conta tem a função única de emocionar.

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Nesta semana, um recado na caixa de mensagens conseguiu deixar sem palavras esta tagarela escritora que vos fala. Num texto curto, carregado de emoção, um leitor me dizia que tinha recém-terminado a leitura de Allegra: Antes do Play – sentia que a história tinha sido escrita para ele, que o ensinou que ninguém precisa ser perfeito para ser feliz, que não é necessário se sujeitar aos padrões da sociedade para seguir em frente, que todo mundo pode ser único como Allegra é.

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Allegra passou um curto período comigo. Entre elaboração do roteiro cena por cena e a escrita do livro propriamente dita, foram menos de trinta dias. Trinta míseros dias. Mas, se sua estada no palco da minha alma foi curta, foi arrebatadora: intensa o suficiente para eu não desistir de escrever sua história enquanto o ponto final não tivesse sido colocado.

Que todos possamos ser Allegras – únicos, como o nome dela; únicos, como alguém que está pouco ligando para a opinião alheia; únicos, como o sentimento de dever cumprido no fim da última página.

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