Dizer que André Sá irá mudar os ares não é a melhor forma de explicar que o tenista se aposentou das quadras. Isso porque vai ser difícil tirar a camisa de tecido leve, a bermuda com bolsos, o tênis com sola lisa e a raquete das mãos, já que o mineiro radicado em Blumenau não ficará tão longe assim do esporte. Com a responsabilidade de se tornar treinador e consultor da Federação Internacional de Tênis (ITF), Sá começa a trilhar o caminho de orientador e não mais de jogador.
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Com 11 títulos na carreira, todos em duplas, André Sá encontrou uma lacuna no início da década passada, deixou a categoria simples, e enfileirou troféus da Associação de Tenistas Profissionais (ATP). Foram seis conquistas entre 2007 e 2011 – cinco ao lado do brasileiro Marcelo Melo – e outras quatro entre 2015 e 2017. O último grito de “é campeão” foi, inclusive, diante do torcedor no Brasil Open, em São Paulo, ano passado. No currículo, Sá ainda carrega o fato de ter sido semifinalista de nada mais, nada menos do que o Torneio de Wimbledon, o mais antigo e charmoso dos eventos da modalidade em todo mundo.
Agora, chegou a hora de virar coach. Depois de tantas conquistas e de ter acumulado 2,6 milhões de dólares em prêmios durante a carreira, André Sá terá a tarefa de reerguer Thomaz Bellucci, segundo maior tenista brasileiro de todos os tempos, mas que vive um momento de instabilidade. Bellucci chegou a ser o número 21 do ranking mundial em 2010, porém de lá para cá flutuou demais as posições, não conseguiu conquistas relevantes. Retomar a confiança, para Sá, é o primeiro passo para que Bellucci volte àqueles bons tempos do início da década.
– Precisamos criar uma consistência, principalmente emocional e de resultados. Não estou querendo chegar e mudar o jogo dele ou fazer mudanças drásticas. Quero acrescentar mais clareza para que ele se sinta mais tranquilo nos momentos importantes, porque é isso que falta. Ele tem volume, tem jogo, tem pegada, já jogou contra os melhores e ganhou. É nisso que eu vou procurar ajudar – explica o ex-jogador, agora treinador do atual 135 do mundo.
Talento, dedicação
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e ambiente propício
A ausência de um grande nome na história recente do tênis brasileiro, na opinião de André Sá, ocorre por um contexto que envolve talento, dedicação, e um ambiente propício. O ex-tenista diz que é preciso ter capacidade para encontrar potenciais jogadores, desenvolvê-los, fazer com que eles tenham vontade de praticar o esporte e, com o atleta consolidado, criar um cenário em que ele não tenha qualquer vontade de deixar as quadras – o que vai de estrutura para treinos até investimentos. Essa, para Sá, é a receita para que o famigerado “novo Guga” apareça em algum lugar por aí:
– Dentro dessas esferas e principalmente no ambiente é preciso ter uma base forte, com bons e capacitados treinadores. É muito fácil ficar criando desculpas, dizer que falta investimento da confederação ou patrocínio da iniciativa privada. É uma combinação. O principal é você ter estrutura, bons treinadores e um ambiente que te permita tirar o máximo de cada menino. Aí quando vier um cara supertalentoso, que ele seja o melhor do mundo, mas é preciso ter essa combinação.
Sá embarcou na sexta-feira para a Flórida, nos Estados Unidos, onde participará do início da preparação de Bellucci para a sequência do ano Por lá, ele ficará cinco semanas para dar continuidade à temporada que espera que seja de redenção ao conterrâneo. O último torneio disputado por Bellucci foi o Cachantun Open, em março, no Chile, em que caiu nas quartas de final para o eslovaco Jozef Kovalik.