Anderson Silva precisou de apenas dois minutos e 57 segundos para mostrar em Las Vegas, em 2006, que é um mito, e de poucos dias para desconstruir os 18 anos da própria imagem. Ao derrotar o campeão dos pesos médios do Ultimate Fighting Championship (UFC) Rich Franklin com uma sequência memorável de joelhadas e chutes, o brasileiro deu início a uma ascensão que o levou a ser considerado o maior lutador de todos os tempos pelo presidente do UFC, Dana White.

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“O atleta é uma marca a ser preservada”

Mas nove anos depois, a carreira de Spider ruiu e ele deve se aposentar com a mancha indelével do doping, que coloca sua trajetória em dúvida e faz o mundo se questionar: foi só agora, ou a prática era recorrente?

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Não é exagero afirmar que Anderson ocupa um lugar de destaque no esporte ao lado de ídolos como Ayrton Senna e Gustavo Kuerten. Graças a ele, milhares de jovens passaram a acompanhar o MMA e procurar academias para aprender jiu-jitsu e muay thai. Spider, com carisma, irreverência e ousadia, tornou-se sinônimo de sucesso e determinação, principalmente entre os jovens.

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Estrela maior do UFC, caminhava para encerrar a carreira em alta após derrotar, em 31 de janeiro, o americano Nick Diaz na edição 183 do torneio, na mesma Las Vegas que o viu despontar. Porém, o que seria um retorno triunfal transforma-se, a cada divulgação dos testes, em frustração para seus fãs.

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Silva ficou 13 meses parado por fraturar a perna no embate anterior, contra Chris Weidman, e ao que tudo indica precisou de drogas para retomar a forma física. Em dois exames feitos pela Comissão Atlética de Nevada, foram detectadas as substâncias drostanolona e androsterona, aplicadas para aumento e fortalecimento dos músculos.

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Ele foi suspenso temporariamente e aguarda julgamento. Em vez de ser lembrado pelo talento, Spider – assim como aconteceu com o ciclista Lance Armstrong – pode entrar para a história pela porta dos fundos, a despeito das 34 vitórias em 40 lutas e a maior sequência de defesas de título consecutivas – 10.

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– Os anabolizantes são bengalas psicológicas e físicas, que aumentam a confiança, vontade e estrutura corporal. O caso de Anderson Silva é chocante porque nunca se imaginou que ele, sempre radicalmente contra isso, fosse pego nessa situação – avalia o coordenador do Laboratório de Atividades Físicas da PUCRS, André Luiz Estrela.

Mesmo que o MMA esteja no centro da crítica esportiva hoje de forma negativa – Jon Jones (cocaína) e Nick Diaz (maconha) também caíram -, as repercussões são boas, na opinião de Estrela. O UFC já anunciou que investirá milhões de dólares no aperfeiçoamento da prevenção e fará testes surpresa. Além disso, aumentará a punição para quem descumprir as regras, que hoje não passa de dois anos. Spider, é bom que se diga, nunca teve problemas com doping até 2015.

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– O controle era light. Nas artes marciais, sempre foi fácil o acesso aos anabolizantes. Só que o UFC chegou a um nível de profissionalismo que não aceita mais essa situação. Considero uma evolução. Não se pode permitir que um moleque se drogue porque seu ídolo faz – diz Estrela.

Veja momentos marcantes da carreira de Spider

Vitória no UFC em 2006 e primeiro cinturão dos pesos médios:

Nocaute em Vitor Belfort com um chute no UFC 126:

Anderson Silva quebra a perna em luta contra Chris Weidman em 2013:

Vitória no Cage Rage 8, em 2004, contra Lee Murray: