Anderson primeiro estacionou diante das câmeras de TV. Depois, reconheceu a equipe de Zero Hora, sorriu, deu meio passo para trás e entabulou a conversa. Repousando as tranças ora sobre o ombro esquerdo ora sobre o direito, o guri criado no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre, mandou abraço para os amigos do Estádio Olímpico.

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E iniciou a entrevista como se fosse uma conversa regada a chimarrão.

– Tudo bem, Anderson?

– Tudo bem, estamos indo por aqui.

Quando Pato chegou perto, o amigo o elogiou, erguendo o cabelo e mostrando uma tatuagem no lado esquerdo do pescoço (com as iniciais A e M dentro de um coração).

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Desconversou sobre o significado das iniciais. Mas curtiu ontem os créditos obtidos no domingo.

Dois chutes potentes de fora da área, alguns passes certos e 45 minutos de lucidez no meio-campo em Assunção fizeram de Anderson Luiz de Abreu Oliveira a estrela da Seleção Brasileira em Belo Horizonte.

Todos se acotovelaram para ouvi-lo na zona mista improvisada diante da sala de musculação da Cidade do Galo, o local onde a Seleção se prepara para enfrentar a Argentina, na quarta-feira.

– Eu sempre estive preparado, tanto dentro quanto fora de campo – disse, sem rodeios.

Mais adiante, acrescentou:

– Nunca tive chance de jogar contra os argentinos. É um clássico.

Confiança, portanto, não parece ser o seu problema.

A tatuagem no pescoço não é a única: no antebraço direito, Anderson ostenta um curioso contorno de um mapa da África. Mas a Europa tem marcado mais a sua vida do que as tatuagens.

Quando deixou o Grêmio era atacante com rara mistura de força e habilidade. Agora, voltou volante, daqueles que carimbam a bola e só a fazem andar. Em vez do drible, o passe correto. As arrancadas são para perseguir adversário.

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– Virei volante em Portugal. Sofri uma lesão e, quando voltei, o técnico do Porto me colocou atrás, para não forçar. Me adaptei bem – explica, já revelando um carregado sotaque luso.

Indagado por ZH sobre como deve proceder na frente da área, Anderson antecipou-se com um sorriso maroto:

– Tem que sentar a porrada neles.

Mais tarde, um dos repórteres veio confirmar:

– O que você perguntou para ele dizer isso?

Um repórter colocou-lhe o fato de a Seleção, depois de sete anos, voltar a perder dois jogos seguidos. O volante de confiança de Sir Alex Ferguson, do inglês Manchester United, respondeu como se desse um carrinho no repórter:

– Perdemos, sim, mas continuamos com cinco estrelas.

Dupla Gre-Nal

Enquanto concedia entrevista no Cidade do Galo, o agora volante Anderson se deu conta da presença de Alexandre Pato por perto. O ex-atacante colorado se posicionou ao lado do ex- jogador do Grêmio para atender os repórteres na zona mista.

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Nisso, alguém perguntou para Anderson:

– E essa parceria com o Pato, como é que anda?

– Está boa, é a melhor possível – disse o campeão da Liga dos Campeões da Europa pelo Manchester United, com direito a gol na decisão por pênaltis contra o rival Chelsea.

Os dois são presenças certas na seleção que representará o Brasil nos Jogos Olímpicos da China.

Pato no banco

Pato é liso mesmo. Evita qualquer assunto que seja polêmico ou possa vir a ser. Ontem, questionado sobre a inusitada situação de sobrar até do banco de reservas em Assunção, jurou nem lembrar se havia sido a primeira vez:

– Acho que no Milan eu fiquei na reserva uma vez. Nem lembro direito.