Comida no chão e tapa na cara
Tiago Pereira
tiago.pereira@rbsonline.com.br
Aos 33 anos, o zagueiro Leandro Silva tem experiência de sobra no futebol. Com a bola nos pés, atravessou o mundo e ganhou dinheiro, mas também passou por situações inusitadas antes de chegar ao Avaí. Como em agosto de 2007, quando foi contratado pelo Al Ahli, da Arábia Saudita.
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– Me disseram que se vencêssemos o jogo não sairíamos do estádio. Fiquei preocupado. Sorte que deu empate – conta Leandro, que, entre outros hábitos, aprendeu a comer no chão, algo incomum para ele.
No ano seguinte, topou mais uma aventura e foi jogar na Coreia do Sul. No primeiro treino, estendeu a mão para cumprimentar o treinador e levou uma bronca.
– Estender a mão para os mais velhos é considerado um gesto desrespeitoso. O treinador me xingou.
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Leandro viu o técnico dar um tapa na cara de um companheiro e, ao tentar apartar, foi repreendido pelos colegas.
– Aquilo não fazia sentido para mim, mas para eles é normal. Mas se alguém levantasse a mão para mim, a história ia ser outra – garante o zagueiro do Avaí.
Celular amigo e tênis na porta
Everton Siemann
Quando ainda era moleque, Diego Jota Martins sonhava em rodar o mundo jogando bola. Mas nem nos sonhos esse joinvilense de 25 anos, atualmente no Metropolitano, imaginava pisar nos gramados da Tailândia.
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Em 2010, aos 22 anos, aceitou o desafio e foi jogar no TTM Chiangmai. Sem saber falar nada do idioma local, tinha um companheiro inseparável: o celular.
– O usava como tradutor. Quando não funcionava, ligava para alguém que podia me ajudar. Às vezes, não dava certo.
Depois de alguns apertos, aprendeu um pouco de tailandês. A curiosa cultura asiática rende lembranças inesquecíveis. Em especial, o fato de não poder entrar em casa com calçados nos pés. Na crença local, é para evitar que os moradores levem para o lar as impurezas da rua.
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– Na frente dos apartamentos tinha um monte de tênis “da hora” na frente das portas. E ninguém mexia. Queria ver se fosse aqui no Brasil (risos) – recordou.
Antes de deixar a Ásia, o volante ainda atuou no PTT Rajnavy Rayong, da província de Chonburi, próxima à capital, Bangkok.
Briga e cabelos congelados
Rodrigo Stüpp
Crescido na gelada Serra Gaúcha, Tiago Sala, 28 anos, zagueiro do Guarani, entrou numa fria maior ainda. Entre 2010 e 2011, foi titular do Nõmme Kalju, da Estônia. No inverno, quando o futebol era substituído por uma espécie de showbol indoor, o frio era glacial: chegava a -27ºC.
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Sala mal precisou saber dizer tere (olá, em estoniano) para diferenciar, no olho, russos e nativos. Fora de campo, os efeitos do domínio soviético durante a Guerra Fria eram visíveis.
Nem aí para a encrenca dos vizinhos, Sala, um colega inglês e um português, ambos do time, engrossaram com os russos em um amistoso na pré-temporada.
– O russo entrou rachando e o português não gostou. Deu bolo e fui logo pra cima. Terminou em confusão. Pro esporte é feio, mas valeu. Eles comemoravam como se tivéssemos vencido o jogo.
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Jogar no frio também exige fardamento especial. Apesar de quase totalmente coberto, uma parte do corpo sentia:
– Eu era cabeludo. Suava muito e sentia a barba congelar. As mechas do cabelo ficavam duras de gelo durante a partida – lembra.
Gasolina a apenas R$ 12
Lucas Balduíno
Quem está acostumado com o calor carioca não se assusta com temperaturas elevadas. Não para o zagueiro Sandro, do Joinville, que atuou no Kuwait. Ele lembra com carinho da sua passagem pelo Al-Kazma, time da capital, Cidade de Kuwait, mas não gosta de recordar dos 50ºC.
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– Você precisa treinar só à noite e o corpo perde muito líquido – lembra.
As praças de alimentação dos shoppings têm bastante restaurantes de redes americanas. Isso não quer dizer que ele não experimentou pratos diferentes e picantes, como um carneiro que era servido em uma porção bem “generosa”.
– Parece que comíamos com o bicho olhando pra gente – brinca.
Situado no Golfo Pérsico, o país é um dos maiores exportadores de petróleo do mundo. O dinheiro da venda do produto serve para modernizar a capital e atrair turistas. A economia também chamou a atenção de Sandro por outra razão.
– O que eu mais gostei de ver foram os postos de combustível. Eu enchia o tanque do carro com R$ 12, sem mentira: R$ 12.
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Em Tel Aviv, Tainha no mercado
André Podiacki
andre.podiacki@rbsonline.com.br
Douglas não teve dúvidas quando surgiu a chance de jogar em Israel. Fora dos planos do Atlético-PR, decidiu aproveitar a proposta para morar no Oriente Médio. Foram seis anos e seis meses em Israel, em duas cidades: Kfar Saba e, depois, Tel Aviv.
Douglas se surpreendeu. O país não é nada do que ele via pela televisão. Em Tel Aviv, fez amigos, que vêm visitá-lo em Florianópolis, onde nasceu e joga pelo Figueirense.
– Tive que aprender a falar hebraico para sobreviver. No início, eu ia ao mercado, pegava o que queria e só ia descobrir o preço na hora de pagar.
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Lá ele se surpreendeu ao encontrar tainha, o tradicional peixe catarinense, no mercado de Tele Aviv.
– Comia escalada, frita – lembra o manezinho.
O bom futebol apresentado em Israel rendeu um contrato com o Red Bull, da Áustria.
– O país é ótimo, tem uma grande qualidade de vida – comentou o jogador.
Na sua casa, no Ribeirão da Ilha, Douglas guarda com carinho várias camisas do Hapoel Tel Aviv, time que, segundo ele, lhe deu maturidade e responsabilidade.
De Omã para a Armênia
Genielli Rodrigues
– Fui para ficar rico e voltei apaixonado.
É assim que o zagueiro Léo Bahia, 27 anos, que defende o Juventus, define os cinco anos que passou fora do país. O baiano de Santo Antonio de Barcelona encarou seu primeiro desafio internacional no Aljustrelense, em Portugal.
Lá, teve uma conquista pessoal: em 2010, Léo casou-se com Angela.
No ano seguinte, o zagueiro mudou-se para Omã, onde jogou pelo Al Rustaq. Umas das situações embaraçosas que viveu foi durante um jantar.
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– Ninguém come com talheres. Sentamos no chão para comer, e tinha que ser com as mãos – conta.
Antes de fechar com o Juventus, Léo estava no Gandzasar, da Armênia.
– Joguei meia temporada. Além do frio (-16ºC), sofri por ter ficado longe da minha esposa. Achei muito arriscado levá-la, pois o país ainda tem conflitos.
Após a experiência na Armênia, Léo Bahia resolveu voltar para o Brasil. Assim que o técnico Pingo entrou em contato para repatriá-lo, Léo não pensou duas vezes.
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>>> Assista ao vídeo dos andarilhos da bola