Pesquisadores da Universidade de Campinas utilizaram uma tecnologia inédita para analisar algumas das principais marcas de esmaltes, batons e lápis de olho disponíveis no mercado brasileiro. E o resultado foi preocupante.
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Três das nove marcas de esmalte mais vendidas no país (o nome de fantasia dos produtos foi mantido em sigilo, substituído por código de números e letras) continham taxas elevadas de Sudam III, uma substância potencialmente cancerígena.
Das cinco amostras de batom analisadas, uma apresentou alterações significativas em características sensoriais, como odor rançoso, antes mesmo do vencimento do prazo de validade. Outra não trazia um dos componentes hidratantes descritos no rótulo.
Das três amostras de lápis de olho examinadas, uma, com uso vencido, trazia substâncias que, além de causar irritações e alergias, podem tornar o ambiente ocular propício à proliferação de microrganismos causadores de infecções.
Pela primeira vez, foi utilizada uma platoforma criada pelo Laboratório Innovare de Biomarcadores, da Unicamp, que associa imagens em duas e três dimensões a dados estatísticos.
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Denominada Cosmetômica, a tecnologia é capaz de identificar, em poucos segundos, os componentes químicos presentes nos produtos de beleza. Além de permitir acompanhar todo o processo de produção de um cosmético, da matéria-prima até sua degradação, a plataforma oferece até 99% de acerto nas análises.
Os resultados da pesquisa
Foram avaliados os componentes presentes em produtos cosméticos novos, usados e expirados:
BATONS
> As amostras continham cera de carnaúba, óleo de rícino, lanolina, cera de abelha e outros compostos que conferem espessura, cremosidade e hidratação. Uma marca não trazia alguns componentes descritos na embalagem, como as ceramidas. Os batons em uso ficaram oxidados e perderam a função antes do fim do prazo de validade.
LÁPIS DE OLHO
> Todas as amostras apresentaram potencial para causar irritação ou criar um ambiente propício para infecções nos olhos. Nos batons, as alterações na composição química podem ocorrer pelo contato com a saliva. Nos lápis de olho, a oxidação ocorreu sozinha, alterando o pH da fórmula, um risco para quem usa esse tipo de produto.
ESMALTES
> Em três marcas foram encontradas altas concentrações de Sudam III, corante conhecido por seu potencial cancerígeno – os riscos estão associados à ingestão acidental como no hábito de roer as unhas, por exemplo. De cor vermelho-acastanhado sob condições normais, o Sudam III fica azul quando submetido à acidez.
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O que fazer em caso de alergias
> Ao sinal de sintoma alérgico, suspenda o uso. Consulte um dermatologista para averiguar possíveis lesões.
Princípios ativos e seus riscos
> Ureia: um dos hidrantes mais comuns em cosméticos, não deve ser usado por gestantes, porque penetra nas camadas mais profundas da pele e pode atravessar a placenta e atingir o feto. Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibiu produtos com mais de 10% de ureia.
> Corantes e essências artificiais: podem causar alergias em pessoas mais sensíveis.
> Parabeno: presente em cremes, xampus, condicionadores, hidratantes e na maioria dos cosméticos, esse conservante age como se fosse o estrogênio (hormônio feminino). O uso contínuo pode causar desequilíbrios hormonais e aumenta o risco de doenças. Altas concentrações são encontradas em tumores de mama e de próstata.
> Formol: alguns tipos de conservantes produzem e liberam formol. Além da conhecida toxicidade, um estudo da Universidade de Debrecen (Hungria) revelou que o formol contribui para o aparecimento de câncer.
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> Propilenoglicol: utilizado como diluente e presente em uma ampla variedade de cosméticos. Pode desencadear alergias e irritações de pele.
> Lanolina, ácido sórbico e bronopol: as três substâncias foram classificadas pela Comissão Europeia de Empresas e Indústria Farmacêuticas como alergênicas para a pele humana.