Não é de hoje que andar por passarelas deixou de ser segura. Mas o assunto voltou novamente à discussão quando no último sábado um garoto de 13 anos caiu e se machucou quando se encostou num corrimão, no Bairro Santa Mônica em Florianópolis. Em outros locais da cidade , a situação de descaso e perigo se repetem todos os dias.
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O Diário Catarinense foi com um perito, o engenheiro civil e de segurança do trabalho Bernardo Tasso, em três locais. A falta de manutenção era evidente em todos. O caso mais grave é da passarela em frente ao terminal Rita Maria, em que o engenheiro aconselhou a interdição total até que fossem feitos reparos. A cena é de barras de corrimão caídas, buracos no chão, ferrugem nos ferros de sustentação e as ferragens aparecendo em meio ao concreto.
– Só vão refazer quando cair alguém – disse.
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No CentroSul, a situação não é muito diferente, apesar de ser menos grave. No chão não há buracos, mas a ferrugem acompanha todo o corrimão. Em alguns lugares de sustentação, a corrosão já começa a oferecer perigo de cair. Há também problema na junta de dilatação, que une uma placa a outra na mudança de nível. Há espaçamento em duas delas. Todos os ralos do sistema de drenagem estão entupidos.
Na descida pelo lado do camelódromo o problema se agrava ainda mais: o concreto cedeu e criou degraus, oferecendo risco a quem passa com pressa e acaba com a acessibilidade. Hosana Moreira dos Santos, 41 anos, andava rapidamente pelo local quando foi lançada ao chão ao tropeçar num dos desníveis. Além de esfolar as mãos, também teve o celular estilhaçado com a batida. Apesar de ter sido a primeira vez que caiu, não é de hoje que amarga tropeções no local.
– Ainda bem que desta vez foi só a mão. Sempre tropeço, mas cair feio é só agora.
Na passarela em frente ao CIC, apesar de estar aparentemente melhor, o perigo fica escondido nos corrimões. Os trincados e as ferrugem do início não oferecem tanto risco, mas ao caminhar atentamente pelo local, começa-se a perceber a gravidade. Num dos vãos de entroncamento, faltam duas barras inferiores de proteção. Para um adulto, não teria tanto problema, mas se uma criança passa correndo e não consegue parar, a chance de cair no mangue é muito grande. Seguindo pelo local, é possível ver outros pontos com o mesmo problema. Mais uma vez falta a manutenção e as barras estão caída. Há até uma tela sinalizando, mas não dá segurança aos pedestres.
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Acesso em Itajaí foi construído há mais de 30 anos
Localizada numa das áreas de maior movimento de veículos em Itajaí, no Bairro Fazenda, a passarela da Avenida Osvaldo Reis foi construída há mais de 30 anos. Mas a estrutura mantém-se segura, de acordo com o engenheiro civil e de segurança José Moritz Piccoli, inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e diretor da Associação Regional dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos (Area) em Itajaí. O especialista observou que o guarda-corpos e o piso da passarela estão com a manutenção em dia e que a passagem é bem localizada, em frente a um ginásio de esportes e a um ponto de ônibus. Mas o acesso é ruim e o ângulo de inclinação da rampa dificulta o uso por idosos e cadeirantes, de acordo com o engenheiro.
– A passarela é segura, mas não é funcional.
A sugestão do especialista é ter proteções mais altas nas laterais e enterrar o cabeamento de alta tensão para incentivar o uso da passarela.
Maior cidade do Estado também tem problemas em relação às passarelas
Joinville tem duas passarelas em sua região central. A mais antiga é que fica na avenida JK, ligando a catedral a um colégio. Foi inaugurada há 15 anos e sua última manutenção é de dezembro de 2011. A segunda passarela (Charlot), foi inaugurada há um ano e fica sobre o Rio Cachoeira, ligando a Câmara de Vereadores ao Centreventos Cau Hansen.
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Por se tratar de uma obra reformada há pouco tempo e de outra um ano, não há problemas estruturais aparentes que ocasionem risco de queda das estruturas, segundo o engenheiro Gilberto Luiz, especialista em patologia de construções. Parapeitos, pisos e outros detalhes também estão conservados, segundo análise rápida.
O que o engenheiro observa, porém, é o não-atendimento de uma norma técnica: o fato de haverem parapeitos vazados nas duas estruturas, o que possibilita que crianças pequenas se pendurem ou escalem esses locais, por exemplo. Na passarela Charlot, o problema ocorre em todo o parapeito. Na da JK, ele ocorre nas escadarias (no vão livre, há tela).
O engenheiro lembra que a análise visual apenas dá percepções de conservação. “É importante que se for contatada rachadura, ferrugem ou outros problemas, seja feito um estudo conforme normas técnicas (com equipamentos e procedimentos específicos) para avaliar a integridade da estrutura. Manutenção que siga um cronograma para cada material também é fundamental”, destaca.
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Contrapontos
O que diz o secretário de Obras João Amin
Segundo o secretário de Obras, João Amin, o problema da passarela Rita Maria já estava sendo mapeado pela Prefeitura. A falta de manutenção foi tema de uma reunião com o Ministério Público no dia 15 de janeiro. Um orçamento prévio foi feito e a obra deve custar aos cofres públicos cerca de R$ 330 mil. O edital será lançado nos próximos dias.
Já com relação às passarelas do CIC, o custo será de mais de R$ 100 mil. Ainda não há prazo para ser publicado a licitação. Nos próximos dias devem ser feitas as correções na passarela em frente ao Iguatemi.
Às outras estruturas passarão por uma avaliação da Secretaria de Obras, que deve começar ação para recuperação. Um relatório com todos os problemas, inclusive com a quantidade de passarelas, deve ser entregue em 15 dias.
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O que diz a prefeitura de Joinville
O diretor executivo da Secretaria de Estrutura Urbana (Seinfra), Eduardo Regua, pediu que a reportagem encaminhasse a solicitação para uma análise mais detalhada do órgão, que deve ser respondida nos próximos dias. Regua informou que não havia possibilidade de uma levantamento ainda ontem, junto ao setor responsável por manutenção das estruturas, para saber a real situação das passarelas e se não seguiriam alguma norma técnica.
Quem é o perito
Nome: Bernardo Tasso
Profissão: engenheiro civil e de segurança do trabalho
Experiência: em análises de obras, inclusive de estádio de futebol como do Avaí e do Criciúma
Florianópolis, Itajaí e Joinville: as avaliações
Capital
Terminal Rita Maria (Centro)
Conservação: ruim
Proteção: ruim
Acesso: satisfatório
Avaliação: ruim
CentroSul (Centro)
Conservação: razoável
Proteção: bom
Acesso: razoável
Avaliação: sem risco
CIC (Beira-Mar)
Conservação: razoável
Proteção: razoável
Acesso: bom
Avaliação: razóavel
Itajaí
Avenida Osvaldo Reis
Conservação: razoável
Proteção: bom
Acesso: bom
Avaliação: razóavel
Joinville
Avenida JK
Conservação: bom
Proteção: bom
Acesso: bom
Avaliação: bom
Charlot
Conservação: ótimo
Proteção: ruim
Acesso: ótimo
Avaliação: razoável