Quando as cortinas da Noite dos Campeões deste sábado se fecharem, terá sido encerrada a participação da bailarina Ana Botafogo na curadoria artística do Festival de Dança de Joinville. Ela permaneceu no posto por três anos, sempre ao lado de outros dois profissionais da dança de diferentes gêneros que colaboram nas decisões a respeito da programação de cada edição do evento, considerado o maior e mais importante do Brasil na área da dança. Como ocorre tradicionalmente no evento, ela agora despede-se da equipe que formava com Caio Nunes e Rui Moreira para dar lugar à Dany Bittencourt, do Estúdio de Ballet Cisne Negro.
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Ana Botafogo já possuía uma longa história com o Festival de Joinville: ela veio à cidade pela primeira vez para dançar na quinta edição, em 1987, quando apresentou o segundo ato de "La Bayadère" na abertura da noite de balé clássico da Mostra Competitiva e, nas três décadas seguintes, voltou a fazer participações em noites especiais e foi jurada em alguns anos. Mesmo assim, a experiência foi de novas descobertas neste novo papel.
— Eu me lembro de ficar muito impressionada com a estrutura que existe aqui e que é a engrenagem que move o Festival. Aprendi muito sobre o evento, porque no primeiro ano é tudo muito novo — conta ela.
Entre as contribuições que ela fez como curadora, a maior marca é a de criar uma nova etapa para a seleção de variações (solos) de balé clássico de repertório. Além de passar pelas duas etapas que todos os trabalhos enviados para a seletiva do Festival de Dança passam, em 2019 foi criada uma seletiva ao vivo para os bailarinos deste gênero que se apresentam sozinhos no palco.
— Começamos a notar que haviam muitos talentos e, como a seleção é muito enxuta, só sobrava seis ou sete para todo mundo ver. A gente achou que seria muito bom dar oportunidade para estes jovens que alcançavam médias altíssimas que, em vez de serem vistos apenas pelos curadores, também fossem vistos pelo público, pelos colegas e por outros professores. É importante que os jovens brasileiros saibam quem são os seus pares — explica.
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Quando passou a integrar a curadoria artística do Festival de Dança, Ana havia assumido recentemente a direção artística do Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, do qual é primeira bailarina, cargo que dividia com Cecilia Kerche. Eram os primeiros movimentos para deixar de ser "apenas" bailarina e envolver-se em outras funções. Agora, depois de ter sobrevivido a uma das piores crises financeiras que o Ballet do Theatro do Rio vivenciou — período em que movimentou campanhas, criou camisetas de suporte e administrou um elenco que diminuía — deixou o cargo e prepara o primeiro espetáculo da própria escola de dança.
Ao mesmo tempo, enquanto estava em Joinville para esta edição do Festival de Dança, ensaiava para dançar ao lado de Carlinhos de Jesus no Teatro Rival em 2 e 3 de agosto. NO espetáculo Isto é Brasil, participará de um Pas-de-Deux com o bailarino de dança de salão em "Garota de Ipanema", "Divina Dama" e "Batucada", além de interpretar um solo no chorinho "Feitiço". Para 2020, prepara uma espécie de intercâmbio artístico com Caio Nunes, parceiro na curadoria, em um projeto chamado ABC Dream, que foi lançado nacionalmente durante o Festival de 2019.
— Eu vinha de um momento em que era muito bailarina, sendo comandada pelo diretor, pelo ensaiador. Foi um aprendizado ficar este tempo na curadoria e ter conhecimento de toda a estrutura necessária para que o maior festival de dança do mundo aconteça. Pude participar muito proximamente de profissionais que antes eu não tinha muito acesso, porque convivi, em três anos, com outros quatro curadores — garante.