Em meio a um encontro com a bancada federal do PP na Câmara, o deputado federal Esperidião Amin atendeu à reportagem do Diário Catarinense e comentou as mudanças no cenário eleitoral nacional provocadas pela aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva e analisou o cenário estadual, baseado na pesquisa Ibope divulgada no final de semana. Ex-governador por dois mandatos, Amin defendeu que o PP tenha pré-candidato ao governo estadual e apontou o governador Raimundo Colombo (PSD) e a mulher Angela Amin (PP) como principais beneficiados pesquisa.
Continua depois da publicidade
Diário Catarinense – Essa aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva, o senhor acha que muda alguma coisa no cenário político de Santa Catarina?
Esperidião Amin – Eu pessoalmente acho que foi a maior tacada do ano. O que vai dar em termos de votos, eu não sei. Mas se me perguntar qual foi o maior lance político do ano, foi a cena de sábado do Eduardo Campos ao lado da Marina. Nem Hollywood [imaginaria]. Agora o que vai dar em termos de voto, eu não sei. Em Santa Catarina, eu acho que o maior desconforto vai ser produzido para o governador. Porque o PSB de Santa Catarina é monitorado por quatro secretários dele. É um PSB chapa-branca. E ele tem compromisso com a Dilma. Como dizia o [ex-governador] Aderbal Ramos da Silva, cabe uma pergunta: quem estará sendo sincero? (risos). Eu não estou dizendo, estou perguntando. Aliás, quem está perguntando é o PT. Eu não sou candidato a presidente, mas se eu fosse a Dilma, diria “peraí, tu dizes que me apoias e desenvolves um partido alternativo?” (risos).
DC – Isso pode desenvolver um novo palanque em Santa Catarina?
Amin – Eu acho que tem tudo para desenvolver. Aí que eu digo: quem vai ficar desconfortável nisso? Não sou eu. Nem sou candidato. Eu acho que o maior desconforto é para o governador. Quanto à questão eleitoral, não será surpresa para mim, pessoalmente, se na próxima pesquisa houver uma projeção de vitória da Dilma em primeiro turno. Porque o voto da Marina não será absorvido pelo Eduardo Campos imediatamente. Aliás, nem sei se será absorvido. Porque o eleitor da Marina não segue um diretório. Ele é eleitor da Marina porque quer ser eleitor da Marina. Porque não concorda nem com Eduardo, nem com Aécio [Neves], nem com a Dilma. O fato da Marina ir, não significa que o eleitor autônomo vá. Aliás, bota autônomo nisso. O eleitor menos autônomo é o do PT. Se mudar os candidatos, eles continuam votando no PT. O mais autônomo é o da Marina. Quanto do percentual da Marina vai ser distribuído entre Eduardo, Aécio e Dilma? Eu acho que no primeiro momento, pouco. Acho que a maior parte vai simplesmente se retrair. Se sair pesquisa semana que vem não me surpreendo se a Dilma aparecer vencendo em primeiro turno, porque os outros vão manter a proporção que tinham. Não quer dizer que esse seja o cenário da eleição.
Continua depois da publicidade
DC – E o que o senhor achou dos números da última pesquisa aqui do Estado?
Amin – A maior vitoriosa de todas se chama Angela Amin. Se você medir a centimetragem de notícias sobre ela de 2011 até hoje, não enche uma página. Ela não apareceu nem nas inserções do partido. Na televisão, não preenche o espaço da publicidade mais modesta. Ela simplesmente sumiu e apresenta esses números. Segunda para o governo e primeira para o Senado. Se for recall, bota recall nisso [risos]. Claro que tem recall, mas ela fez uma campanha tão modesta [em 2010 ao governo], com tão pouco tempo de televisão. Só se a campanha for melhor hoje do que na época. Não foi boa como campanha, mas foi boa como recall [risos]. Acho que a grande vitoriosa foi ela, junto com o Raimundo Colombo. O principal adversário dele é o PMDB e os nomes do partido, Mauro Mariani, Dário Berger, estão distantes dele. Eu não diria que o PMDB é o maior adversário do Raimundo. É o maior oponente. O oponente dele é a candidatura própria do PMDB. Acho que foi um banho quente, de conforto para o Raimundo Colombo, no principal desafio dele que é manter o PMDB na aliança.
DC – E qual é o desafio do PP? Pavimentar uma candidatura própria?
Amin – O nosso desafio é uma frase só. Se nós não tivermos pré-candidaturas ao governo do Estado, vamos ficar fora do mapa da política de Santa Catarina. Defendo que o partido tenha nomes e comece a discutir propostas para 2015-18. E gostaria muito que o meu partido renovasse os nomes, oxigenasse.
DC – Como o senhor analisa o desempenho de Joares Ponticelli?
Amin – Eu acho que deve ter sido frustrante para ele, mas isso não é uma sentença, é uma situação. Acho que se ele mostrar um discurso de candidato, cresce. Se ele for visto como um agregado da chapa do Raimundo, não. Um agregado condicional, como está sendo visto. Porque ele está sendo visto assim: “o Ponticelli quer ser o senador do Raimundo Colombo, mas tem medo de que o PT tome a vaga dele”. Isso fragiliza ele. O Joares tem uma boa presença, é trabalhador, inteligente, lúcido. Para fortalecer o discurso dele, tem que ser candidato a governador. E é importante que as pessoas tenham razões para acreditar nisso. Ele é um grande nome de renovação, assim como a Angela, que nunca foi governadora, embora tenha disputado duas vezes [1994 e 2010]. Ela teve um desempenho excelente na primeira e eu diria que mediano na segunda. Mas ela tem o direito de postular. Como o [ex-deputado] Hugo Biehl tem o direito, o [deputado federal João] Pizzolatti, se superar as dificuldades que possa ter. O partido tem que ter nomes. Nós temos que falar bem dos nossos. Eu estou falando bem do Joares, respeitadas algumas colocações minimamente honestas. Porque ele não teve desempenho melhor? Porque as pessoas não acham que ele seja candidato a governador. Se tivesse essa pergunta na pesquisa, ficaria implícito que 20% acredita que ele é candidato a governador e, destes, 5% vota nele (risos). Quem diz que ele não é candidato? Não sou eu. É o cenário, a forma como são apresentados os nomes, como a imprensa o vê, como assessores dele divulgam. Assessores dele dizem: “a vaga de senador é do Joares”. E eu também acho que é. Se houver o acordo do PMDB com o Raimundo e a vaga ao Senado couber ao PP, essa roupa serve no Joares. Não serve em mim. Podem dizer “ah, mas o Esperidião tem mais votos”, mas não vou ficar bem nessa chapa.
DC – E a Angela?
Amin – Também não vai. Acho que pode ser o tiro pela culatra. Em relação ao PMDB, pode haver uma revolta na hora de votar. Uma rejeição ao beijo.
Continua depois da publicidade
DC – Como foi na eleição municipal de Tubarão, na chapa que reuniu PP e PMDB [e foi derrotada pelo PT de Olávio Falchetti]?
Amin – Exatamente. O beijo da morte, como se diz. Eu estou muito velho para fazer o beijo da morte.