Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) como engenheiro mecânico, Amilcar Neves foi professor na instituição e também trabalhou por cerca de 20 anos na área da informática. Lançou o primeiro livro aos 32 anos, atendendo a um anseio da adolescência. Tornou-se escritor premiado no Brasil e no exterior, escreveu nove livros, participou de diversas coletâneas e colaborou em jornais, revistas e rádios.

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Em 2012, quando completou 50 anos de produção literária, entrou para a Academia Catarinense de Letras e, no discurso de posse, recordou-se que discutir e produzir literatura foram algumas das melhores experiências na época da juventude. Eram os anos 1960, cursava o ensino médio e participava do movimento estudantil chegando a ser presidente da União Estudantil Tubaronense (UET).

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Foi em um programa na rádio de Tubarão, cidade onde nasceu em 1947, que estreou na produção literária com a leitura de crônicas. Também publicou os textos nos jornais da UET e do colégio que estudava. Mas vieram a ditadura e a repressão. Mudou-se para Florianópolis, frequentou a faculdade, especializou-se em fabricação na pós-graduação e seguiu carreira em uma empresa multinacional. Passou 10 anos sem produzir textos literários.

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Já estava com a vida profissional encaminhada, casado, com filhos, quando decidiu voltar a escrever. Investiu tempo e esforço debruçando-se por alguns anos para produzir os primeiros contos, que encaminhou à editora da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). A publicação foi aprovada pelo conselho e, em 1979, lançou o primeiro livro: “O insidioso fato – algumas historinhas cínicas e moralistas”.

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Amilcar Neves, que atribui ao hábito da leitura e de escrever sua visão humanística da sociedade, recheia as linhas e entrelinhas de crítica política e social. Ele considera a literatura como janela para novos horizontes a instigar o leitor a pensar. Além das centenas de crônicas publicadas em jornais durante anos – algumas delas reunidas em “Da importância de criar mancuspias” (2005) –, lançou contos, peças de teatro e novelas, como a juvenil “Pai sem computador” (1993). Neste livro, o protagonista, o adolescente André, “conversa” com o leitor sobre os prazeres e as angústias naturais do crescimento.

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A última publicação do catarinense é “Os mortos de abril” (2018), que ressalta a versatilidade do autor catarinense, desta vez estreando no romance. Com originalidade, Amílcar Neves colocou em prática o projeto que tinha de produzir por dia, num espaço reduzido da página de agenda. Relatou a história de um preso que sabe que vai morrer em uma data específica e começa a fazer um diário, que transcende os tempos do antes e depois.

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Para esta produção, o catarinense dispensou o computador e escreveu cerca de 100 páginas à mão, uma preferência que tem, principalmente usando um tinteiro. A obra foi vencedora do 2º Concurso Salim Miguel (2016-2017), promovido pela UFSC, e como prêmio, foi lançada pela editora da universidade.

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*Texto de Gisele Kakuta Monteiro

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