Cercado de admiradores e sob longos aplausos, o corpo do cicloativista Wilberto Boos foi enterrado na tarde desta quinta-feira no Cemitério da Rua Bahia, em Blumenau. O caixão, que saiu da Igreja Martin Luther, na Itoupava Seca, onde havia ocorrido o velório, foi acompanhado por ciclistas de todas as idades, de crianças a idosos. Boos sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) em setembro, se recuperou e em outubro foi internado novamente, em decorrência de edema cerebral. Estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Santa Isabel e havia passado por cirurgia.

Continua depois da publicidade

Boos morreu na madrugada desta quinta-feira, aos 58 anos. Conhecido na cidade por ser um incentivador do uso da bicicleta, seu legado foi bastante lembrado por admiradores durante o velório. Amigos há 30 anos, Renato Junge lembra que Boos foi um dos primeiros a organizar passeios de bicicleta em Blumenau.

– Aprendi a gostar de bike com ele. Hoje o meu filho tem uma empresa de cicloturismo em Florianópolis por causa do amor pela bicicleta ensinado por Boos – conta Junge.

Por causa de um acidente que sofreu em 1977, enquanto pedalava em direção a Piçarras, Boos até hoje sofria com as sequelas. Mas nem isso era o bastante para afastá-lo das bicicletas.

– Ele dizia que na casa dele não tinha entrada para carros, só para pessoas. Ele pensava na qualidade de vida, na cidade para as pessoas. Precisamos fazer um pouco do Boss todo dia – relembra o presidente Associação Blumenauense Pró-Ciclovias, Giovani Rafael Seibel.

Continua depois da publicidade

Carlos Roberto Pereira conheceu Boos há cerca de quatro anos e, desde então, se tornaram grandes amigos. Ele apresenta também um outro lado do cicloativista: o seu amor pela natureza. Boos organizava trilhas na mata, passeio de caiaque no Rio Itajaí-Açu, cuidava de pássaros e recolhia animais abandonados na rua. Em um pequeno lago no quintal de casa, mantinha tartarugas e jabutis.

Em setembro do ano passado, Boss ajudou a criar a rota para os repórteres do Santa, Fernanda Ribas e Patrick Rodrigues, percorrerem 163 quilômetros de bicicleta, pelo aniversário de Blumenau. No caderno especial, ele deixou uma mensagem explicando o motivo pelo qual pedalava:

Por que eu pedalo? Pedalando descubro, ou descortino a cidade onde vivo. Pedalar é me integrar, descobrir tudo e com todos. Pedalando, olho nos olhos das pessoas pelas quais passo e as cumprimento como amigos. Pedalando eu vejo pássaros e demais seres da cidade, vejo o rio e sua dinâmica nas marés. De bicicleta consigo ver, a cada curva, uma nova silhueta do verde que ainda emoldura nossa cidade. Sinto o vento, o calor, os cheiros da cidade, a chuva, o frio, as cores e às vezes, também a dor. Sei que não conseguiria ver tanta coisa boa e bonita não fosse com a bicicleta, simples, silenciosa, dinâmica. É minha incansável forma de viver e ser feliz.