*Por Daisuke Wakabayashi
Nos últimos dois meses, o emprego das 9h às 17h em sua empresa de software era apenas o início de um dia de bastante trabalho para Joe Essenfeld, Boris Kozak e Matt Geffken.
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Depois de uma pequena pausa para o jantar e um pouco de tempo em família, os três amigos se encontravam em uma chamada pelo Zoom às 20h30, com uma dúzia de outros voluntários, para trabalhar no AllClear, um site para ajudar as pessoas a encontrar informações sobre locais de teste para Covid-19, e assim ficavam até duas ou três da manhã.
O AllClear agora tem um diretório de mais de dez mil locais nos EUA onde as pessoas podem fazer o teste de Covid-19 ou de anticorpos para o coronavírus. Cada local é exibido em um mapa e contém informações, como o tipo de teste e se uma consulta é necessária.
A excitação de fazer algo novo já era conhecida dos três rapazes, que trabalharam juntos na Jibe, uma empresa de software que Essenfeld começou. No ano passado, a Jibe foi vendida para a iCIMS, uma empresa de software de recrutamento na qual eles ainda trabalham. Mas não há recompensa financeira para eles desta vez – os três já gastaram US$ 35 mil do seu próprio dinheiro para algo que, garantem eles, nunca vai render um centavo.
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Eles são um exemplo do voluntariado digital que surgiu durante a pandemia. À medida que o coronavírus se espalhava e a frustração com a resposta federal à crise crescia, alguns empresários e engenheiros aplicaram seu conhecimento adquirido em startups para ajudar.
Entre eles estão Carl Bass, ex-executivo-chefe da empresa de software Autodesk, por exemplo, que está montando 1.500 escudos faciais por dia para enfermeiros e médicos em um armazém de robótica em Berkeley, na Califórnia, e enviando-os para todo o país. Lan Xuezhao, sócia fundadora da Basis Set Ventures, empresa de capital de risco em San Francisco, aproveitou suas conexões na China para obter dezenas de milhares de máscaras médicas diretamente das fábricas para os hospitais.
Quando Essenfeld, Kozak e Geffken, que vivem na área metropolitana de Nova York, começaram a construir o AllClear em meados de março, a visão original era criar uma rede social para que as pessoas compartilhassem suas experiências com o vírus, dizendo inclusive se tinham realizado testes.
Era o tipo de ideia meio brincalhona e meio séria que os três tentavam bolar, como quando consideraram vender picles cafeinado ou café gelado com cheiro de café quente. Mas quando a seriedade da pandemia se tornou clara, eles sentiram a necessidade de fazer algo. “É difícil encarar a sensação de impotência durante esta crise. Mas construir isso tem nos ajudado”, disse Essenfeld.
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Eles aprimoraram o método para encontrar locais de teste. Na época, era difícil achar dados sobre onde e como as pessoas poderiam fazer o teste. As informações disponíveis estavam espalhadas pela internet em diversos sites e vinham de agências locais de saúde, de hospitais e até de redes sociais, mas eram muitas vezes pouco confiáveis e inconsistentes.
O desafio de coletar e organizar dados, no entanto, era familiar para eles. Em sua startup, enfrentaram problemas semelhantes com listas de empregos, informações que mudavam com frequência e estavam dispersas pela web.
“Fizemos isso várias vezes. Sabíamos que tínhamos capacidade de fazê-lo, e não acreditávamos na capacidade do governo”, resumiu Kozak.
Não faltam sites para ajudar as pessoas a encontrar locais de teste. Mas alguns são administrados por agências de saúde locais ou estaduais e fornecem localizações apenas dentro de uma região específica. Outros são administrados por prestadores de cuidados de saúde e mostram apenas locais afiliados. Alguns sites de grupos voluntários usam informações não verificadas. A Apple está permitindo que os provedores de saúde e laboratórios se registrem como locais de teste que aparecerão no Apple Maps, mas é preciso que laboratórios e consultórios médicos ocupados se inscrevam.
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Os criadores do AllClear dizem acreditar que seu site é o único serviço nacional de localização de testes que fornece informações verificadas que não estão afiliadas a um provedor de saúde ou a um tipo específico de testagem.
Sem experiência em testes médicos, os três entraram em contato com dois candidatos a doutorado da faculdade de medicina da Universidade Cornell para obter conselhos. Os dois, que Essenfeld havia conhecido em uma conferência de genética, foram os primeiros a concordar em se voluntariar, ajudando a organizar as informações específicas que deveriam ser coletadas sobre locais de testes e como elas deveriam ser exibidas.
Os fundadores do AllClear também aproveitaram sua rede profissional do tempo da startup e entraram em contato com o escritório de advocacia Orrick, Herrington & Sutcliffe, em San Francisco, que representou a Jibe desde seus primeiros anos.
A firma concordou em assumir o AllClear pro bono para lidar com a documentação e garantir que o projeto cumprisse as regras e diretrizes de privacidade de dados para lidar com informações de saúde sob a Lei de Portabilidade e Responsabilidade de Seguros de Saúde. Também redigiu os termos de serviço.
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Os três recrutaram voluntários para ajudar a trabalhar na aparência e no funcionamento do site. Eles recorreram a amigos e ex-colegas para trazer engenheiros, designers e estrategistas de produtos. O grupo tem agora mais de 30 voluntários, muitos dos quais se reúnem em uma chamada noturna de planejamento no Zoom.
Kozak informou que ninguém se recusou a ajudar quando solicitado.
Para coletar as informações sobre os locais de teste, o AllClear postou um anúncio no Upwork, que ajuda as empresas a contratar freelancers, procurando gente para pesquisar na internet. A oferta de pagamento era de US$ 4 a US$ 7 por hora de trabalho, dependendo da localização e da experiência do pesquisador.
Depois de um dia, cerca de 130 freelancers de todo o mundo manifestaram interesse. Por meio de entrevistas, eles reduziram o pool para 20 candidatos, com foco naqueles que demonstraram algum conhecimento do vírus. Na primeira noite, os 20 candidatos voltaram com informações sobre dois mil locais de teste.
Por fim, o AllClear reduziu o grupo para cinco pesquisadores – dois da Índia, dois do Egito e um da Polônia – que trabalham 40 horas por semana e monitoram dez estados cada. Os pesquisadores vasculham sites de agências estaduais e locais, provedores médicos e até o Twitter em busca de possíveis informações sobre locais de testes. Uma equipe de voluntários verifica se as informações estão corretas antes de sua publicação.
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Até agora, o AllClear gastou US$ 35 mil com o pagamento dos pesquisadores, os custos da computação em nuvem e a manutenção do site, e espera encontrar um patrocinador para pagar essas despesas.
O site se tornou público no fim de abril e está atraindo milhares de pessoas por dia. Em breve, sua lista de localizações começará a aparecer nos resultados de pesquisa do Google.
“Nossa tecnologia e nossos esforços continuarão tentando ajudar a reduzir a ansiedade ao fazer o teste e receber os resultados”, disse Essenfeld.
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